São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Emissoras investem na 'fabricação' de atores para criar novas estrelas

MARIANA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 21 anos, Ana Paula Arósio é hoje o maior exemplo de "atriz de laboratório" -e que acabou conquistando o reconhecimento da crítica.
A "fabricação" de novas estrelas é tendência nas emissoras brasileiras, que estão investindo no preparo de profissionais para poder atender às necessidades de suas produções.
Ana Paula, a menina dos olhos do SBT, é um "projeto" que envolve a segunda maior emissora do país, campanhas de marketing, cinema e teatro.
A garota que aos 12 anos estampou seu rosto em uma publicação voltada para o público adolescente não existe mais.
Ana Paula é agora a protagonista de "Os Ossos do Barão", do SBT. Também está em cartaz em São Paulo com a peça "Fedra", em que interpreta o papel de Hipólito, sob direção do conceituado Antônio Abujamra.
O "projeto Ana Paula" começou em 1994, pelas mãos de Nilton Travesso, diretor artístico do SBT e também diretor do núcleo de teledramaturgia da emissora. A atriz gravou uma pequena participação em "Éramos Seis".
"Já pensava na possibilidade de ser atriz. Na agência em que eu estava na época, falavam para eu fazer um programa infantil. Mas eu não queria, não tem nada a ver comigo", diz Ana Paula.
A ex-modelo acabou seduzida pela proposta do SBT. "Estava aquela onda de modelo virar atriz. Eu tinha um pouco de medo do despreparo. Mas o convite do SBT era muito legal", lembra.
Ana Paula foi um investimento para a emissora. Foi contratada e ficou um ano e meio fora do ar, fazendo curso de interpretação com Beto Silveira, financiado pela própria emissora. Seu contrato vai até maio do próximo ano.
"A Ana era muito dedicada", avalia o mentor Silveira. "Entrei de cabeça, chorei muito nas aulas", lembra a aluna.
"Quando se trabalha em TV há anos, você aprende a ter um pouco de intuição. Fiz um contrato longo não para segurá-la, mas para poder educá-la. Se uma pessoa tem talento, temos a obrigação de dar a retaguarda. E ela soube aproveitar", diz Travesso.
Em 1995, Ana Paula pisou no palco pela primeira vez com a peça "Batom", ao lado de Fúlvio Stefanini e Luiz Gustavo. Paralelamente, continuou fazendo o curso e começou a ter aulas de canto, para melhorar a voz.
No ano passado, ganhou o papel de Bruna, na novela "Razão de Viver". "Poderia ter sido melhor, faltou empatia com a personagem", analisa Ana Paula.
Agora, a atriz já está mais segura e direcionada. No final de abril, Ana Paula aceitou um "desafio": participar da montagem de "Fedra", de Jean Racine.
"Fiquei com um pouco de medo no início, mas não tinha no que pensar, era aceitar e trabalhar", conta.
Além disso, Ana Paula colocou em sua carreira a figura do agente, nos moldes do que os astros norte-americanos fazem.
Marco Aurélio Garcia trabalha com ela há um ano e meio e a ajuda a planejar estratégias para a carreira, como qual campanha publicitária deve fazer, quais projetos cinematográficos, teatrais ou de TV em que deve entrar. Tudo visando um futuro de atriz "respeitável e para não queimar sua imagem".
"Sempre recebi muitas propostas e sentia falta de um filtro, de direcionar meu trabalho", fala Ana Paula.
Nesse esquema, não é todo produto que pode tê-la como garota-propaganda. "Não adianta pagar um excelente cachê, se o projeto não atender meus interesses a longo prazo", explica.
Apesar do reconhecimento e dos elogios recebidos por suas recentes atuações, Ana Paula sabe que ainda tem muito para trabalhar e aprender.
"Tenho muita autocrítica. Desde os tempos de modelo, analisava meus trabalhos. Preciso ter mais ousadia", afirma.
Nesse processo de especialização como atriz, Ana Paula quer fazer o curso de Robert De Niro, nos EUA. "É um curso de interpretação aplicada para cinema. Gostaria de ficar fora por um período de três a seis meses. Quero ganhar mais respeito."

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