São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Choque faz desocupação sem incidentes

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma operação de guerra, realizada pela tropa de choque da Polícia Militar a partir das 6h10 de ontem, garantiu a desocupação do Conjunto Habitacional Juta 2, em São Mateus (zona leste de São Paulo).
Não houve resistência por parte dos moradores que foram retirados em relação aos policiais.
O comandante do Policiamento de Choque, Carlos Alberto de Camargo, declarou que, desta vez, os policiais utilizados na operação e a tática adotada levavam em consideração a chance de haver conflito.
"O planejamento para o dia de hoje (ontem) foi feito levando-se em conta o cenário de ontem (anteontem), de combate. Por isso, a PM optou por colocar só a tropa de choque", disse.
Anteontem, três sem-teto foram mortos em confronto com a PM no local. Os policiais davam apoio ao cumprimento de um mandado judicial de reintegração de posse, já que os 448 apartamentos do conjunto, ainda em construção, haviam sido invadidos, no dia 3, por cerca de 440 famílias de sem-teto da região.
A ação de anteontem foi executada por 100 homens do 21º Batalhão da PM, sem treinamento recente e equipamento para lidar com distúrbios e multidões. Apenas 39 membros da cavalaria da tropa de choque participaram.
Ontem, só integrantes da tropa de choque -474, no total- executaram a operação, comandada pelo próprio Camargo. O helicóptero Águia 3 foi usado para monitorá-la.
O carro Centurion, para dispersar multidões, 40 cavalos, 30 veículos leves, 26 pesados (ônibus, caminhões), 30 cachorros e 16 motos também foram empenhados.
Negociação
Além disso, a operação policial foi precedida por uma negociação, que lhe garantiu o êxito.
Representantes dos moradores e de movimentos de sem-teto se reuniram, de madrugada, no 69º DP (Distrito Policial), que fica perto do conjunto, com o chefe da Casa Civil do Governo estadual, Walter Feldman, o chefe da Casa Militar, coronel Costa Ramos, vereadores e deputados estaduais, membros do CDHU e o delegado Antônio Mestre Júnior, que cuida do inquérito do caso.
Em troca, receberiam senhas que os cadastrariam em programas habitacionais do Estado, especialmente em mutirões. As senhas foram distribuídas aos moradores na manhã de ontem.
Líderes de movimentos de sem-teto, como o Terra de Deus, Terra de Todos e a União dos Movimentos por Moradia se comprometeram a estudar a possibilidade de incluir ex-moradores do Juta 2 em seus mutirões.
Retirada
Por volta das 7h10, todos os moradores tinham deixado os apartamentos, alguns chorando e protestando. Não há registro de feridos.
Os policiais tinham um mandado de busca e apreensão de armas e revistaram todos os apartamentos. Alguns foram arrombados.
Os ex-moradores e seus móveis, eletrodomésticos, roupas, colchões e utensílios foram retirados em caminhões-cofre. Boa parte foi levada à casa de parentes.
Quem não tinha para onde ir seria abrigado em albergues do Cetren (Centro de Triagem e Encaminhamento) e seus pertences guardados em depósito da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano).
Por volta das 11h30, a PM anunciou a descoberta de um revólver calibre 38, com seis balas -três delas deflagradas-, no apartamento 12 do bloco 8.
Os policiais também tiraram dos apartamentos garrafas, trapos e uma lata de "Thinner", que poderiam ser usados para fabricar bombas incendiárias (leia texto à página 2).

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