São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'FHC usa MST para evitar CPI', diz Stedile

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O líder do MST João Pedro Stedile, 43, afirmou ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso atacou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra durante a posse do novo ministro da Justiça, Iris Rezende, para desviar a atenção da população e evitar a criação da CPI da Reeleição.
"O governo quer bloquear o processo de criação da CPI da Reeleição e o MST é um bom prato para desviar a atenção da opinião pública", disse Stedile, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Stedile disse também que qualquer tentativa, por parte do governo, de processá-lo por suas declarações seria uma "retaliação" à decisão do MST de não integrar a comissão de alto nível que o governo pretende criar para discutir a questão agrária.
"Desconfiamos que essa comissão não levará a nada. Se quisesse conversar, o governo teria criado comissões para discutir a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, a reeleição ou o Proer. Quando quer fazer algo, o governo não discute", disse Stedile.
Ele voltou a defender a invasão de terrenos desocupados em áreas urbanas pelos sem-teto, motivo das críticas do presidente.
Stedile já havia defendido invasões nas cidades anteontem, no Rio de Janeiro, após o debate "Reforma Agrária e Política Agrícola", promovido pelo 9º Fórum Nacional na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
"Em todas as grandes cidades, há terrenos baldios que só servem para especulação imobiliária", reafirmou Stedile. "O papel dos órgãos públicos é desapropriá-los. Se não o fazem, é legítimo que os sem-teto se organizem e ocupem."
Para ele, "os desempregados também devem se organizar e fazer manifestações na frente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e de fábricas". "Em certas circunstâncias, quando ficar claro que a fábrica fechou, acho legítimo que os operários a ocupem e assumam as atividades."
O líder do MST defendeu também "vigílias" em frente a supermercados para "chamar atenção para a questão da fome". Segundo Stedile, não há risco de esse tipo de manifestação terminar em saques.
"Sempre que acontece depredação, é porque a massa reage de forma desorganizada. É importante que as pessoas se organizem e pressionem de maneira ordenada. Do contrário, as cidades virarão barris de pólvora", afirmou.
"No Brasil, pobre não tem direito de se organizar. E sabe por quê? Porque são 100 milhões. Só o rico pode se organizar", afirmou.

LEIA MAIS sobre os sem-teto em Cotidiano

Texto Anterior: Baionetas
Próximo Texto: FRASES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.