São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Governador petista condena declarações

DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), condenou ontem as declarações de João Pedro Stedile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que na véspera declarara apoio a invasões de prédios por sem-teto e a protestos em frente a supermercados.
Buarque -que, assim como Stedile, participou do 9º Fórum Nacional promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos- disse considerar perigosas as declarações do dirigente do MST. Segundo ele, é preciso respeitar as regras democráticas, "que levamos muito tempo para construir".
"Sou radicalmente contra esse tipo de sugestão, até por que pode virar uma regra", afirmou Buarque. "E, se virar regra, o que o MST vai fazer quando, seguindo-a, os latifundiários invadirem as terras ocupadas pelo MST?"
O petista atribuiu as declarações de Stedile ao "desespero, à angústia, à espera de 200, 400 anos, por uma reforma agrária que não é feita". Buarque disse que é preciso evitar a causa de declarações do gênero, o que só pode ser conseguido fazendo a reforma.
"Não tenho elementos para fazer nenhuma avaliação das consequências disso", disse o governador petista. "No Zaire, na época do Mobutu, no finalzinho do governo Mobutu, até que estava certo: era um processo revolucionário em marcha."
Divergência
Outro petista, o prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, deu declarações em sentido contrário. Segundo ele, "estão exagerando o sentido da frase do Stedile".
"É a mesma coisa que dizer: 'Proletários de todos os países, uni-vos' (frase de Karl Marx, teórico do comunismo)", disse ele. "Eu tenho política de jamais temer a organização popular."
Para Pont, o problema de falta de moradias nas grandes cidades é muito grave, mas as invasões de conjuntos habitacionais por legiões de sem-teto não constituem novidade, porque vêm ocorrendo há anos em algumas cidades.
"Em Porto Alegre, os maiores conjuntos habitacionais já foram ocupados", disse. "Boa parte deles, como Jardim Leopoldina e Rubem Berta, completaram recentemente dez anos de ocupação."
Segundo o prefeito, "hoje está muito difícil ocupar novos conjuntos" porque não há mais prédios vazios. Pont acha também que os sem-teto não têm o mesmo nível de organização dos sem-terra. "Uma palavra de ordem dessas, para a cidade, pressuporia que as pessoas estivessem organizadas", disse. "Não vejo isso."
O prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde (PFL), condenou a declaração de Stedile: "Invasão é um ato abusivo e não faz parte do comportamento normal das pessoas".

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