São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Prefeituras armam 'festa popular' para Iris

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A festa de posse do ministro Iris Rezende (Justiça) foi marcada por manifestação explícita de uso da máquina pública. Prefeituras de Goiás utilizaram 120 ônibus, camionetes escolares, carros oficiais e até cavalos para levar cerca de 3.000 pessoas a Brasília, segundo cálculos da PM (Polícia Militar).
Ontem foi ponto facultativo na maioria dos 242 municípios goianos, segundo o prefeito de Itumbiara, Cairo Batista (PMDB). "Para todos os goianos hoje é feriado. Dia de festa", afirmou.
O prefeito de Caldas Novas, Evandro Magal (PTB), também confirmou a decretação do feriado. Ele disse ainda que fez um acordo com empresários para pagar o transporte de 400 moradores da cidade até Brasília.
Apesar do esforço, Magal, Batista e vários outros prefeitos ficaram do lado de fora do Palácio do Planalto, durante a posse de Iris.
"É desagradável demais tudo isso. Nunca pensei que teria de aguentar esse sol quente na cabeça e esse sufoco todo", afirmou o prefeito de Amaralina de Goiás, Elvino Coelho (PMDB).
O valor das despesas não foi revelado pelos prefeitos, que jogaram as responsabilidades para empresários e diretórios dos partidos.
"Pede aqui, acolá e vai saindo um dinheirinho", disse Beatriz Spenciere, uma das coordenadoras do diretório do PMDB de Goiás -que é presidido por Iris Rezende, mulher do ministro.
Em seu discurso de posse, no início da tarde de ontem, o ministro Iris Rezende distorceu resposta que havia dado à Folha.
A reportagem procurou o ministro para saber quem havia pago a festa da posse. "O povo faz a sua própria festa", disse Iris, pouco antes de entrar no ministério. No discurso, o ministro contou sua própria versão do fato.
"Quando eu entrava nesse salão, a imprensa me segurou para uma entrevista. E um dos repórteres, que eu respeito, me fez uma pergunta: quem está pagando esta festa? E eu disse a ele: você não conhece os goianos", discursou, sob os aplausos da claque.
Iris prosseguiu: "Ele (o repórter) não sabe que os deputados estaduais que aqui se encontram, os vereadores de Goiânia, prefeitos e vereadores de mais de uma centena de municípios e trabalhadores integrantes de sindicatos contrataram (transporte) com recursos próprios para que pudessem comparecer a essa festa cívica".
Uma das camionetes estacionadas nos arredores do ministério era da Secretaria de Defesa Sanitária de Goiás.
O secretário estadual do Planejamento, Ovídio de Angelis, disse que a utilização da camionete do governo do Estado no evento é "indevida", mas o responsável "tomou uma decisão pessoal".
Segundo o secretário, os ônibus que transportaram os manifestantes para Brasília foram pagos por "líderes empresariais e comunitários que queriam expressar seu sentimento de goianidade".
Incra
No seu discurso de posse, Iris anunciou a saída de Milton Seligman, até então ministro interino e secretário-executivo da Justiça. Ele será nomeado na próxima semana para a presidência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
O presidente Fernando Henrique Cardoso irá transferir Seligman para deixar o novo ministro da Justiça à vontade para montar sua equipe. A transferência foi sugerida a FHC pelo ministro Raul Jungmann (Política Fundiária).
Seligman se filiou ao PSDB em outubro de 96. Na década de 80, ele participou do diretório nacional do PMDB, onde se tornou amigo do presidente e do ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ele será o sexto presidente do Incra no governo FHC. "Sou um funcionário do governo que pode ser tirado a qualquer momento", disse o presidente do Incra, Nestor Fetter. Ele desconhecia que seria afastado do cargo.
O futuro presidente do Incra foi convidado por Jungmann para ocupar o cargo e aceitou. Mas ainda não falou sobre o assunto com o presidente.

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