São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Filme "O Santo" sufoca a fórmula do sucesso

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O que existe de mais admirável em "O Santo", a aventura do diretor Phillip Noyce que chega hoje aos cinemas, é a coragem de apostar em uma suspeita. A morte -talvez decretada por efeitos especiais demais- da exigência do público.
"O Santo" faz parte da onda de reciclagem do cinema norte-americano. Retomar um personagem -um antigo herói de romances baratos, do rádio, dos quadrinhos ou da televisão- e retocá-lo para os novos padrões de aventura, suspense, drama e, claro, velocidade.
Há então Simon Templar (Val Kilmer). Um garoto órfão que sofre a cruel disciplina dos internatos católicos para, depois de adulto, vingar-se do mundo tornando-se um ladrão de primeira classe.
Quando o "O Santo" se inicia, acompanhamos o desejo de aposentadoria de Templar, que só pode ser realizado depois de um grande golpe.
O que termina por levá-lo até a conturbada Rússia, um país dominado por máfias depois do fim do comunismo.
Mas, além de bandido, Templar é também um cavalheiro. Isso significa, na cultura de Hollywood, alguém que bebe vinho, fala mais de uma língua, lê poesia e está condenado, por força do destino e de um roteirista pouco criativo, a se apaixonar por uma de suas supostas vítimas.
O seu interesse romântico, no filme, é a bela e talentosa Elisabeth Shue (que necessita demitir seu agente por colocá-la em produtos como "O Santo"), interpretando uma cientista à procura de respostas para um dos mistérios da humanidade: a fissão nuclear à frio.
Se a fissão é gélida, Templar, não. Usando vários disfarces, boa vontade e uma terrível calça de couro, ele fará tudo para que ela fique ao seu lado.
Depois de meia-hora -ou talvez 20 minutos antes- dessa mistura de dramas freudianos, religião e aventura juvenil, o espectador já não sabe se está diante de um dos corriqueiros equívocos do cinema ou de uma obra de subversão.
E, como as chances de Noyce ter desejado produzir um filme surrealista são mínimas, o caso de erro grosseiro e da ação sem cuidado parecem explicar melhor "O Santo".
Depois de décadas perseguindo uma fórmula de sucesso instantâneo, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos parece se intoxicar com o próprio sucesso. Se algo funciona, a tarefa é repetir até a exaustão.
Em "O Santo", todos os ingredientes conhecidos comparecem: o romance, o cenário exótico, os efeitos e o galã. Mas esqueceram, infelizmente, de um mínimo de talento capaz de deixar tudo em pé.

Filme: O Santo
Produção: EUA, 1996
Direção: Phillip Noyce
Com: Val Kilmer, Elisabeth Shue, entre outros
Quando: a partir de hoje, nos cines Morumbi 5, Gemini 2, Paulista 1 e circuito

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