São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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'Descobri sua vida de carne e osso', diz autor

HAROLDA CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

John Lee Anderson já morou na Colômbia, em Taiwan, Indonésia, Libéria, Alasca, Inglaterra, Honduras. "Foram 14 ou 15 países", diz, sem conseguir fechar a conta.
Filho de um diplomata e de uma escritora de livros infantis, Anderson começou a carreira de jornalista somente em 1979, no Peru, escrevendo para o semanal "Lima Times", de língua inglesa.
Trabalhou para o jornalista Jack Anderson (que não é seu parente) e cobriu, por exemplo, a disputa entre Inglaterra e Argentina pelas Malvinas. Também trabalhou para a revista "Time".
Escreveu um livro sobre guerrilhas e, depois disso, decidiu preparar a biografia de Che.
Anderson falou à Folha, por telefone, de Granada, na Espanha, onde vive agora. Leia os principais trechos abaixo.
(HCS)
*
Folha - Após quase mil páginas sobre Che, como está a imagem dele para você: melhor ou pior?
John Lee Anderson - Depois de passar por muitas posições durante a produção do livro, minha opinião agora é muito parecida à de quando comecei. Acredito que ele é uma figura que afeta nossa vida ainda hoje, dessas que só aparecem de vez em quando.
Mas não tenho ilusões normalmente associadas a Che Guevara. Eu o vejo como o que há de mais puro entre os homens do seu tipo. Houve algumas surpresas sobre sua personalidade, porque ele foi muito mistificado. Mas descobri qual foi sua vida de carne e osso.
Folha - É comum a comparação de Che com Dom Quixote. Che não é visto hoje mais como um personagem de ficção do que uma pessoa de carne e osso?
Anderson - Na consciência popular, Che é mais que uma pessoa viva, está à beira da mitologia.
Mesmo conhecendo mais sobre ele, entendo o processo de mistificação. Ele representa ideais descompromissados. Sei que estou falando num nível superficial, mas é nesse nível que é entendido imediatamente. O que o fez marcante é que ele não se curvava. Sempre ia adiante com seus ideais, estivessem certos ou errados. Por isso ele é admirado mesmo por quem não concorda com sua política.
Folha - Você é comunista, socialista, liberal...
Anderson - Eu não me enquadro ideologicamente. Provavelmente, sou uma pessoa idealista, sou atraído por outras pessoas com ideais.
Sou mais realista, não acredito num dogma particular, mas tenho de dizer que, certamente, não estou na direita. Sou um humanista, estou na esquerda, mas não gosto de dogmas.
Folha - Che não acreditava nas forças de Laurence Kabila. Kabila chegou ao poder na República Democrática do Congo. Quem estava certo, Che ou Kabila?
Anderson - É preciso lembrar que Kabila tinha 20 e poucos anos, um jovem irresponsável. É ainda cedo para dizer o que Kabila aprendeu nestes 30 anos. Mas Che escreveu no seu diário que Kabila, apesar de todos os defeitos, era uma o único com capacidade para liderar as massas. De certa forma, acertou.

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