São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Guerra Fria manteve país unido

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Querer manter unido um país com mais de 200 línguas e dialetos, além de grandes rivalidades tribais, pode parecer, para muitos, uma grande ficção. O fato é que essa ficção foi não apenas criada como também mantida por várias décadas, em nome da lógica da Guerra Fria.
Assim que os belgas simplesmente abandonaram suas possessões coloniais na África (leia-se basicamente o ex-Zaire, além de Ruanda e Burundi) nos anos 60, seguiu-se, no caso específico da atual República Democrática do Congo, por cinco anos, uma guerra tribal em que se disputavam não apenas o controle sobre os destinos do país, mas também a própria conveniência de manter o que se chamava de Congo Belga como uma unidade.
Vitória do tirano
A vitória de Mobutu Sese Seko, com o apoio de importantes potências ocidentais, resultou na manutenção do território como uma unidade, numa tirania poucas vezes vistas antes (mesmo para padrões africanos) e na rapinagem de bilhões de dólares do país. Tudo isso se "justificava" em nome da luta contra o comunismo.
Mobutu envelheceu, adoeceu, e o Muro de Berlim caiu. O Zaire deixou de ter a importância geopolítica de que já gozara. Os antigos aliados do velho ditador rapidamente reconheceram o novo governo do país. Mobutu encontra mesmo, apesar de sua imensa fortuna, dificuldades para achar um país disposto a recebê-lo.
Secessão
Voltam agora à tona as discussões acerca da conveniência ou não de manter a novíssima República Democrática do Congo como uma unidade. Províncias mais ricas, obviamente, são favoráveis à secessão.
O fato é que, apesar dos apelos das potências pela realização de eleições democráticas (uma espécie de consciência culpada), realisticamente o Zaire já não tem a menor importância geopolítica. A África, tantas vezes apelidada de continente esquecido, só tende a ficar cada vez mais esquecido, exceto para manifestações de boas intenções. É rima, mas nem de longe solução.

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