São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997 |
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Amazonino usa ofensa em entrevista
DA REDAÇÃO O governador do Amazonas, Amazonino Mendes, empregou termos de baixo calão ontem em entrevista ao repórter André Mugiatti, da Agência Folha. Ele fez ainda uma citação de gosto duvidoso à figura do papa, ao comentar o escândalo de compra de votos.Amazonino recebeu a reportagem da Agência Folha por volta de 10h. Segundo o seu secretário de Comunicações, Ronaldo Tiradentes, ele diria apenas que não comentaria seu suposto envolvimento na compra de votos de deputados de Acre. Após alguns minutos de conversa, como o governador falava sobre o assunto, o repórter pediu explicitamente, duas vezes, permissão para ligar o gravador. Amazonino não se opôs. Após a entrevista, Tiradentes pediu que não fosse publicada a referência ao papa. Diante da resposta negativa, o secretário insultou o repórter e expulsou-o do palácio. Mais tarde, algumas pessoas estiveram na casa do repórter em Manaus e forçaram a porta, sem chegar a arrombá-la. Depois O governador Amazonino Mendes enviou ontem fax à direção da Folha afirmando que não fez as declarações em entrevista formal e solicitando ao jornal que desconsiderasse as declarações gravadas. "Em momento de absoluta licenciosidade, porque não autorizada a reprodução, usei de expressão forte, tentando exemplificar com a figura do papa (em tese)...", diz o fax. Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Amazonino Mendes à Agência Folha. * Agência Folha - Estou ligando o gravador... A Câmara pediu que a Assembléia investigasse... Amazonino Mendes - Ah, sim, e daí? Agência Folha - E se a Assembléia chamar o sr. para falar? Amazonino - Problema da Assembléia. Eu não antecipo fatos. Eu não tenho nada a ver com isso. Eu me coloquei à disposição da comissão (especial da Câmara), eu fui muito claro nas duas entrevistas que eu prestei. Eu não vou esticar um assunto que me é doloroso e o que eu tinha que falar, já falei. Agência Folha - Mas o senhor disse na televisão... (falando sobre a construção de estrada). Amazonino - Espere aí, deixe eu lhe explicar. Eu vou lançar o edital para a BR-319 com recursos do Estado. Os primeiros 100 km, que é o trecho difícil, nós estamos estimando em R$ 40 milhões, com recursos do Estado. Não tem nenhum tostão do governo federal. O governo federal não tem me dado dinheiro, não me dá dinheiro para nada. Eu não fiz o terminal graneleiro com dinheiro federal, eu não fiz a BR-174 com dinheiro federal, apesar de a estrada ser federal. E não me deram o dinheiro. Mas eu não estou negociando e não preciso negociar. E não vou perder minha consciência numa merda dessa. E chega. Agência Folha - Mas os deputados disseram (que venderam o voto), as fitas são verdadeiras. Amazonino - Assim eu vou dizer que o papa é bicha. Me diz uma coisa, o papa é bicha? Me diz uma coisa, agora honestamente, um idiota qualquer diz que o papa é bicha. Quer dizer que o papa é bicha? Que é isso, rapaz, em que país nós estamos vivendo? Onde está a civilização? Agência Folha - Mas é diferente, alguém dizer que o papa é bicha e um deputado dizer que... Amazonino - Deixe dar minha posição tranquila. Tem Justiça? Tem, não tem? Então vale a Justiça. Eu não fujo à Justiça. Eu quero é tudo na Justiça. E mais: eu disse que abria o meu governo e não estou mentindo. Agência Folha - O senhor vai entrar na Justiça? Amazonino - O que, eu? Tudo que aparecer contra mim, eu vou entrar na Justiça. Tudo. Não fica nada sem que a Justiça examine. É a minha obrigação. Essa é a minha posição. Essa é a entrevista que eu tenho que dar. Será que você não entende? Os deputados, dois imbecis. Sei lá a que título. Tá louco. É minha vida, tem que me respeitar. Eu não quero falar sobre o assunto. Entendeu, meu amigo. Eu lhe agradeço, mesmo, do fundo do meu coração, porque não é por aí. Texto Anterior: Acre precisa de mais 1 nome para ter CPI Próximo Texto: Em NY, Maluf evita comentar o episódio Índice |
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