São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Vetor ligou 6 vezes ao gabinete de Pitta

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O gabinete do secretário das Finanças de São Paulo, quando ocupado pelo atual prefeito Celso Pitta (PPB), recebeu seis telefonemas da Vetor Corretora de Valores, que participou de operações suspeitas com títulos do município.
Segundo dados que a CPI dos Precatórios obteve com a quebra de sigilo telefônico, as ligações se concentraram em dois dias de maio de 1996. No dia 16, ocorreram quatro telefonemas. No dia 17, outros dois.
O levantamento também identificou um telefonema realizado pela corretora Astra, em 21 de setembro de 1995.
Pitta ocupou o gabinete até o dia 23 de maio do ano passado, quando deixou o cargo para disputar as eleições municipais.
Todas as ligações foram feitas para o número 221-0082 -que, segundo técnicos da CPI, é do gabinete do secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo.
A CPI pediu que a Telesp checasse os números usados pelo gabinete do secretário. A estatal solicitou-os à Prefeitura, que informou seis números.
Até agora, a CPI só cruzou os telefonemas de um deles.
Cinco ligações da Vetor duraram apenas um minuto. Isso significa que as conversas se estenderam por esse tempo ou período menor.
Pelo sistema de tarifação, uma ligação com apenas alguns segundos é cobrada como se fosse um minuto completo.
Em 16 de maio, a Vetor ligou para o gabinete do secretário às 10h57, às 16h56, às 17h24 e às 18h09. No dia 17, os telefonemas foram às 9h16 e às 14h41. Todos os contatos partiram do número 297-5115, do Rio de Janeiro.
Vetor
A Vetor Corretora é do mesmo grupo que controla o Banco Vetor, liquidado em fevereiro pelo Banco Central por suposta participação no esquema dos precatórios.
Segundo apuração da CPI, o Vetor seria um dos integrantes da chamada "turma do sucesso" -instituições que, mediante altas comissões, organizavam os lançamentos irregulares de títulos públicos.
Além de participar dos lançamentos de Santa Catarina e Pernambuco, o Vetor também integrou a "cadeia da felicidade" que fez operações com títulos da Prefeitura de São Paulo.
O Vetor comprou R$ 70 milhões em títulos de São Paulo que, após operações fictícias em um só dia, foram revendidos ao Bradesco. No meio do caminho, ficou lucro de R$ 3,867 milhões com "laranjas" do esquema.
O telefonema para a corretora Astra durou um minuto. A ligação partiu do telefone 533-4523, do Rio de Janeiro.
A Astra participou da "cadeia da felicidade" com títulos de Pernambuco. Somente em uma dessas operações, foi fabricado lucro de R$ 21,8 milhões para "laranjas" do esquema.
Outro lado
A assessoria de imprensa de Pitta informou ontem que o prefeito paulistano não poderia ser contactado.
"Não há a menor condição de ver isso agora", disse Henrique Nunes, um dos assessores do pepebista.
Segundo ele, é comportamento "padrão" dos integrantes da CPI divulgarem informações em um horário que não permite respostas do prefeito.
O assessor afirmou, entretanto, que o gabinete de Pitta é "grande". "Vocês publicam a reportagem e na segunda-feira eu verifico onde fica esse número de telefone", afirmou Nunes.

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