São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Sobrevivente diz que viu 15 PMs atirando

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Surgiu ontem a primeira contradição em depoimentos oficiais no caso do confronto entre a PM e sem-teto na Fazenda da Juta (zona leste de São Paulo).
Segundo o promotor encarregado caso, Francisco José Tadei Cembranelli, o invasor baleado que sobreviveu ao confronto, Leandro Aparecido Ribeiro, que levou um tiro na perna esquerda, contou, em depoimento na 8ª Delegacia Seccional, que viu cerca de 15 homens do pelotão a pé atirando contra os sem-teto.
A afirmação de Ribeiro é oposta a do comandante do pelotão que se encontrava no local onde estava o manifestante. "O oficial deste pelotão, que já prestou depoimento, negou categoricamente que algum soldado sob seu comando tenha atirado. Diante dessa discrepância de depoimentos, teremos que reconvocar o oficial", afirmou Cembranelli, que não quis dizer o nome do comandante para não interferir nas investigações.
A contradição dos depoimentos e a identificação do pelotão foi possível em função de uma espécie de reconstituição do conflito realizada com a ajuda de Ribeiro.
Às 17h25 de ontem, a testemunha foi levada ao local pelo delegado-titular da 8ª Seccional, Antonio Mestre Júnior, e pelo promotor Cembranelli para contar sua versão do conflito.
Segundo o promotor, esse procedimento seria importante para identificar PMs que participaram da ação próximo do ponto em que estava Ribeiro -que disse não ser capaz de reconhecer o policial que o atingiu.
Nélson da Silva Daniel, 30, o Suplicy, apontado como líder da resistência, foi ontem à 8ª Delegacia Seccional para denunciar que foi espancado por PMs.
"Os PMs me pegaram, levaram para o carro de polícia e começaram a me bater", disse Suplicy. Segundo ele, o espancamento deixou hematomas no braço, no peito e no pescoço. Após ser detido pela PM, Suplicy foi levado ao 69º Distrito Policial, no mesmo prédio em que funciona a 8ª Seccional.
"Eu vim reclamar o fato de a Polícia Civil não ter requisitado exame de corpo de delito. Era evidente que eu havia apanhado", disse Suplicy.
O delegado Antonio Mestre Júnior sustentou que o exame não foi pedido no dia porque a polícia "tinha muita gente para ouvir".
Suplicy é uma das três testemunhas apresentadas ontem pelo deputado Paulo Teixeira (PT). "Trouxemos essas testemunhas, que ainda não prestaram depoimento com medo de retaliações", disse Teixeira. O invasor Suplicy foi ouvido na própria terça-feira.
O deputado disse que a Assembléia Legislativa pediu à Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e à OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) que acompanhem os inquéritos civil e militar sobre o caso. A Assembléia vai solicitar perícia independente.

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