São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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TEATRO DA MORALIDADE

Há claros sinais de que o governo pretende esvaziar o Congresso Nacional nos próximos dias para impedir a instalação de uma eventual Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a compra de votos pela emenda da reeleição -ou, pelo menos, para criar mais um fator que contribua para sufocar a crise política provocada pelo escândalo.
Ajudado por um providencial feriado na semana que vem, a baixa frequência ao Parlamento parece inexorável. As principais lideranças do Congresso (incluídos os presidentes das duas casas legislativas, Michel Temer e Antonio Carlos Magalhães) deverão viajar ao exterior.
A própria pauta de votações do Congresso foi aparentemente esvaziada, ainda que os parlamentares governistas -até para evitar que se levantassem suspeitas sobre sua atuação nebulosa- tenham tomado medidas como determinar que os parlamentares que faltarem sem justificativa tenham descontados seus salários. No entanto, anteontem, apreciaram-se, por exemplo, temas como acordos internacionais com o Paraguai e com a África do Sul, os quais, aliás, não foram votados justamente pela ausência de quórum.
Essa atitude contrasta fortemente com as próprias declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso, em discurso proferido anteontem, que acusou as oposições de quererem paralisar a tramitação no Congresso das mais que necessárias reformas do Estado, além de ter manifestado seu firme desejo de ver as denúncias esclarecidas.
Aliás, essa nova manobra vem somar-se ao conjunto de operações destinadas a reduzir a oposição ao governo à minoria ideológica, basicamente PT, PSB e PDT. Parte importante dos insatisfeitos circunstanciais foi arrebanhada com cargos e, reforço prudente, os líderes do partido da ordem receberam afagos públicos no comício de posse dos ministros do PMDB.
Ao que tudo indica, em vez de colocar em pratos limpos as revelações que arranham o seu prestígio, o governo parece seguro de que o teatro da moralidade será suficiente para solapar o escândalo.

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