São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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'A Fórmula 1 é mais difícil', diz Brunoro

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DO ENVIADO A BARCELONA

José Carlos Brunoro surpreendeu os palmeirenses e todo o futebol brasileiro, há cerca de um mês, ao anunciar sua saída da direção de esportes da Parmalat.
Suas relações com a empresa italiana foram mantidas, porém, na F-1, onde ele atua como empresário de Pedro Paulo Diniz.
Aos 46 anos, Brunoro vai publicar um livro e espera montar negócio próprio. Em entrevista à Folha, ele fala das dificuldades na F-1, do Palmeiras e dos escândalos do futebol.

*
Folha - O que é melhor? F-1 ou futebol?
José Carlos Brunoro - É diferente. Difícil falar.
Folha - Bem, o que é pior?
Brunoro - Para mim, nos bastidores, é difícil trabalhar. Você lida com pouca gente e muito dinheiro. Isso torna as pessoas extremamente aguçadas, extremamente espertas. Posso te garantir que os dirigentes de futebol são pré-mirim perto desses caras.
Folha - É mais difícil, então?
Brunoro - Para mim é mais difícil de lidar. Sinto até uma ansiedade quando venho para cá. Antes era apenas mais um compromisso. Agora acho até que tenho pouca coisa para fazer. Mas já estou melhorando. Vou começar a ficar com o Pedro todas as segundas-feiras para acertar a programação física, compromissos etc.
Na equipe, faço uma cobrança natural, de quem está junto, de quem representa o patrocinador, em busca de um resultado melhor.
Eles pediram um prazo até esse GP. A partir de agora as coisas devem melhorar gradativamente.
Folha - Você está montando um escritório próprio, não?
Brunoro - Quero definir minha vida até o dia 15. Estou ouvindo todo mundo.
Folha - Quem?
Brunoro - Essa eu passo...(ri). Empresas ligadas a clubes -eu não quero trabalhar dentro de nenhum clube. Não posso ficar mais sujeito a decisões emocionais.
Tem algumas empresas interessadas. Se o projeto for legal no todo, se eu puder dar um passo a mais do que era a Parmalat, por exemplo, então eu vou em frente.
Folha - São bem poucos os clubes, no Brasil, que mostram disposição para tal estrutura.
Brunoro - De repente pode ser um clube menor. Depende do projeto da empresa. Além disso, quero o lado econômico muito claro. Na Parmalat eu não tinha participação nos lucros.
Folha - Você já deu dois bons motivos para ter desistido do Palmeiras e da Parmalat. As 'decisões emocionais' e essa 'participação nos lucros'. Existiram outros?
Brunoro - Não, foi basicamente isso. Fazia um mês que eu já negociava minha saída com a Parmalat. Mas, intimamente, acho que tomei essa decisão há uns oito meses.
Acho que houve um erro da minha parte no episódio Flamengo. Não devia estar conversando com um clube estando em uma outra entidade. Mas senti que tinha mais gente querendo conversar comigo.
Foi uma decisão pensada, mas dura de tomar. Levou tempo.
Se eu esperasse mais dois ou três anos, perderia a coragem. Com 46 anos, principalmente no Brasil, é difícil tomar decisões. Todos te acham velho para qualquer coisa.
Folha - Você tem esse receio?
Brunoro - Engraçado, mas eu tenho. Talvez por ter começado batalhando desde moleque.
Folha - Em 1992, você e a Parmalat eram uma inovação. Passou o tempo, o Palmeiras começou a ganhar. Agora, você sai...
Brunoro -Acho que para o Palmeiras não será problema. Claro, tem uma fase de transição. Mas, daqui a um mês, ninguém mais vai lembrar de mim. Pessoalmente, acho que contribui para o profissionalismo do futebol.
Folha - Mesmo classificado, o Palmeiras não está tão tranquilo...
Brunoro - Tudo isso foi em função do resultado. Começou quando perdeu para o Corinthians. A torcida começou a cobrar e, talvez aí, tenha faltado um pouco de...Por exemplo, eu só ia ao vestiário quando o time perdia. Mas isso foi só coincidência.
Folha - Alguma frustração?
Brunoro - Duas. Não ter podido trabalhar com o Telê e não ganhar a Copa do Brasil.
Folha - E a Libertadores?
Brunoro - Nós disputamos e perdemos. Mas a receita é vencer tudo no Brasil. Aí, as conquistas internacionais são consequência.
Folha - Piores momentos?
Brunoro - O começo, quando ninguém acreditava na gente. Tinha torcedor que ligava para minha casa. Depois, quando o Palmeiras começou a ganhar tudo, veio o tal do 'esquema'. Principalmente quando a coisa partia de dirigentes de outros clubes. Estavam justificando os próprios erros.
Folha - As últimas semanas foram marcadas pelas denúncias de corrupção. Como você vê isso?
Brunoro - Tem que ser apurado até o final. E não adianta CPI. É Justiça esportiva e, depois, Justiça comum. Não vai dar em nada. Mas tinha que dar. CPI é palhaçada. Teve CPI dos "anões", dos títulos públicos e nada. CPI do esporte? Os caras vão lá conversar com o presidente e parece conversa de botequim. É inacreditável.
Por outro lado, coisas assim moralizam. A bagunça pára.
Folha - Você chegou a receber telefonemas indecentes?
Brunoro - Não. Federação e confederação eram problemas do clube. Acertamos assim até para evitar o tal 'esquema Parmalat'. Fui três vezes à FPF, por causa da Copa São Paulo. Na CBF, nunca estive. Só uma vez que eu vi o Ricardo Teixeira, em Caxias, durante sua campanha eleitoral. O Ivens Mendes estava junto.

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