São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Habitação e população de baixa renda

LUIZ MARIA DE S. M. PIQUET

Desde a implantação do Plano Real, em 1994, o mercado de imóveis populares tem alcançado índices de vendas muito superiores aos outros segmentos do mercado imobiliário. Isso porque a estabilização econômica deu às famílias de baixa renda a possibilidade de planejarem a compra da tão sonhada casa própria.
Até então, as sucessivas tentativas que fizeram para proporcionar moradia para a população de baixa renda culminaram ou com débitos altíssimos ou com insucessos estrondosos na hora da colocação do imóvel para a venda.
Mas, mesmo antes do Real, algumas melhorias no setor imobiliário já vinham sendo sinalizadas.
O mercado mudou radicalmente nos últimos 20 anos. Anteriormente, o extinto BNH (Banco Nacional da Habitação) emprestava ao empresário do setor, que repassava ao mutuário. O agente financeiro, por sua vez, descontava o crédito junto ao BNH, o que originou todos aqueles créditos "podres" que nunca foram recebidos.
Posteriormente, com a criação do SFH (Sistema Financeiro da Habitação), a iniciativa privada passou a buscar socorro diretamente junto aos bancos privados.
Houve uma seleção natural, pois os bancos passaram a ser mais criteriosos, exigindo garantias para emprestarem o capital. Boa parte das construtoras que não detinham recursos para a garantia do empréstimo foi alijada do mercado. Em compensação, ficaram as mais bem estruturadas, capazes de erguer imóveis em boas condições de construção, tanto em relação ao prazo de entrega quanto aos materiais empregados.
Nesse panorama, as construtoras especializadas na construção de imóveis populares, com um trabalho de qualidade, começaram a se destacar. Essas empresas constroem, basicamente, apartamentos de dois quartos. Os prédios normalmente são de três pavimentos, com 16 unidades no total, e não têm elevadores.
Em Belo Horizonte, cada apartamento custa em torno de R$ 25 mil e tem área útil média de 50 m2.
Para construir imóveis com preços tão baixos, essas construtoras passaram a atuar em bairros distantes do centro da cidade, onde existem grandes áreas disponíveis.
Nesses locais, as construtoras montam verdadeiras fábricas de apartamentos. Bairros como São Benedito e Castelo e cidades como Betim e Contagem têm sido os mais procurados pelas empresas.
A qualidade desses imóveis também tem melhorado. Até alguns anos atrás, muitas dessas construções eram erguidas sob o regime de empreitada. As cooperativas recebiam recursos do governo, mas os empreiteiros ganhavam pelo total de obras concluídas. A qualidade ficava em segundo plano, pois muitos só queriam receber o dinheiro no menor prazo possível.
Atualmente, o segredo de uma construção barata é a produtividade. Os empresários do setor que ainda não se adequaram às novas exigências de administração e de qualidade estão com os dias contados. Hoje, a maioria desses apartamentos é de bom padrão. A construção é feita em alvenaria, pré-programada, e com materiais de boa qualidade.

Luiz Maria de Santa Martha Piquet, 51, advogado, é presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Sindimóveis-MG).

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