São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Figurante é cidadão de 2ª classe na TV

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles entram em cena para fazer o que os produtores e diretores chamam de "volume", "fundo" ou "sujeira". Durante a gravação de novelas, comerciais de TV ou a realização de longas-metragens, os figurantes são vistos e tratados como profissionais de segunda classe.
Na falta de um sindicato que estabeleça os "limites" da categoria, os figurantes frequentemente trabalham além das oito horas convencionais, chegando a atuar por 15 horas ininterruptas, para ganhar diárias que variam de R$ 30 a R$ 70.
Dependendo do orçamento de determinado trabalho, a emissora ou a produtora responsável nem se incomoda em oferecer um lanche aos "extras" -como eles também são conhecidos- quando a gravação ultrapassa o horário previsto.
"Mas o pior é o tratamento. Os produtores não nos respeitam e alguns diretores chegam a nos chamar de porcos", diz o mecânico Jorge Ferreira, 23, que faz figuração há oito anos para "ganhar um dinheiro a mais".
Seu último trabalho foi fazer "fundo" nas cenas do comercial do shopping ABC, atualmente no ar. Com um total de 60 extras, a gravação do anúncio levou mais de dez horas, atravessando a madrugada do último dia 8, nas dependências do shopping, em Santo André (na região do ABC).
"Isso quando o pagamento não atrasa", destaca o figurante Gilnei Gonçalves, 35. Ele afirma ter esperado quatro meses para receber. "É um festival de calote. Já fui contratado diretamente por uma produtora que depois não queria pagar. Vi figurante saindo de lá carregando televisão para compensar o prejuízo."
Para Jorge Monteiro Jr., 18, os inconvenientes da vida dos extras são superados quando o objetivo é seguir a carreira de ator. "Após fazer figuração por um ano e meio, fui chamado para um teste no SBT, para 'A Praça É Nossa'. Aguardo resposta."
Monteiro foi escalado recentemente para atuar na minissérie "Por Amor e Ódio", em fase de produção na Record. Em uma sequência gravada no último dia 8, em Itu (a 92 km da capital), o figurante trabalhou das 7h às 17h para receber R$ 30. "Fiquei o dia todo sem comer. Não serviram nada e não pude sair."
Os agenciadores reconhecem que os figurantes têm razão em reclamar. "Mas não podemos fazer nada. Somos apenas mediadores", afirma Joaquim Ribeiro, 46, diretor da Pró-Arte Produções e Eventos.
Um caso ocorrido no ano passado, durante as filmagens de "Alô", deixou o próprio Ribeiro irritado. "Eles convocaram os figurantes para as 7h e só começaram a rodar às 18h. Na época, eles ganharam só R$ 20."
A produtora de comerciais Ana Rita Aranha, 32, lembra que todos os profissionais envolvidos na gravação têm mesmo de chegar cedo. "O problema com os figurantes é que, às vezes, eles são pouco profissionais. Levam tudo na brincadeira e fazem algazarra. É difícil controlar."

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