São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 1997
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Elas ficam grávidas e ganham irmãos

DANIELA FALCÃO
DA ENVIADA ESPECIAL A IRACEMA (RR)

Iracema -cidade com 2.500 habitantes, a 99 km de Boa Vista- é conhecida em Roraima como a cidade das mães meninas. Segundo a Prefeitura, há adolescentes grávidas ou com filhos em 60% das casas onde vivem garotas menores de 18 anos. Há vários fatores que, combinados, explicam esse grande número de mães adolescentes.
As meninas começam a vida sexual cedo, seguindo o exemplo de suas mães, que se casaram aos 14 ou 15 anos. A maioria dos pais das meninas mães é analfabeta e passa boa parte do tempo fora de casa, trabalhando nos lotes (roça).
Sexo é um ato banal para elas. Após os bailes, é comum saírem com os rapazes (alguns que acabaram de conhecer) e transarem em locais escuros, em pé mesmo.
As meninas até conhecem os métodos contraceptivos, mas são raríssimas as que fazem uso deles.
Os garotos das cidades vizinhas, que são maiores e mais conservadoras, vêm atrás de diversão fácil e dificilmente se casam com as meninas, repetindo o comportamento dos garimpeiros há dez anos.
Muitas delas fogem de casa e vão morar com os rapazes, mas terminam sendo abandonadas.
Como elas continuam morando com os pais, pouca coisa muda em suas vidas ao se tornarem mães. Elas vivem desde pequenas apertadas em casas minúsculas, dormindo em redes com os irmãos, sem nenhuma privacidade. Seus filhos passam a ser apenas mais gente no meio da multidão da casa.

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