São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 1997
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O videogame carente

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Gyaoppis e Tamagotchis, os bichinhos eletrônicos de nome esquisito, estão entrando discretamente no Brasil pela porta dos fundos. Lojas coreanas e chinesas de quinquilharias e algumas lojas de brinquedos já vendem as pequenas pragas em forma de chaveiro.
Foram inventados para viciar crianças, mas estão virando "cult" entre os adultos.
Os Gyaoppis e Tamagotchis são minivideogames que vêm numa moldura de plástico oval com três botões. Ao começar o jogo, o dono dá "vida" a um bichinho mais exigente que criança recém-nascida, que bipa quando está carente, faz sujeira e exige ser bem alimentado, senão adoece.
"Uso computador há anos, sou viciado, mas isso aqui vicia mais", diz Tony de Marco, editor de arte da MacMania e dono de um Gyaoppi.
Tony não se separa de seu chaveiro. Ia pedir que me emprestasse, para saber como funcionava, mas, depois de ver o trabalho que dava, desisti. O bichinho dele estava com 11 anos virtuais, e tive medo que morresse. "É uma ótima distração", diz ele. "Outro dia me peguei guiando e brincando ao mesmo tempo."
Carlos Lopes, 28, garçom do restaurante Carlota, está um pouco desiludido com o seu Gyaoppi. "Dá trabalho demais e depois de cinco ou seis dias acaba morrendo", diz. "Saí do cinema umas duas ou três vezes, no meio do filme, porque ele estava bipando."
Carlos chegou a desenvolver uma técnica para brincar sem olhar para o brinquedo, para não interromper o trabalho. "Eu trabalho à noite, entro às sete, ele dormia só às dez e meia, era um problema. Meu irmão brincou que ele era um golpe do governo japonês para diminuir a natalidade. Dá para ver o trabalho que um filho dá."
Para Tony de Marco, os bichinhos virtuais são "a maior sacanagem da indústria". "É o primeiro game que você tem uma desculpa pra jogar."
Ele fez a primeira página em português sobre os Tamagotchis e Gyaoppis (www.macmania.com.br/cyberpets). "Fiz uma página infantil", diz.
"Afinal é um brinquedo para crianças. E a maioria deles vem sem manual, elas ficam meio órfãs."
O Gyaoppi é um clone do Tamagotchi, o bichinho original, que vendeu 5 milhões de unidades só no Japão.
"Quando os donos de Gyaoppi se encontram, é um papo de comadre", diz Tony. "Cada um tem uma dica de como alimentar os bichos e cuidar deles."
Tony já teve um aquário virtual no seu Macintosh. "Era até mais complexo que os Gyaoppis. Volta e meia eu ficava um tempo sem usar o computador. Quando ia ver tinha uns três peixes mortos."
No Brasil, o Tamagotchi, fabricado pela Bandai, está sendo distribuído pela Samtoy e pela Neo Toys. Nos EUA, onde começou a ser distribuído em abril, está sendo proibido em algumas escolas. A patrulha politicamente correta entrou de sola na história, afirmando que as crianças pequenas não têm estrutura para lidar com a responsabilidade de cuidar do bicho e depois com sua morte. Cada uma...

E-mail: netvox@uol.com.br

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