São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 1997
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PT X PT

As suspeitas de irregularidades em prefeituras petistas, acompanhadas da admissão -por parte de lideranças do partido- de que o PT errou ao não concluir as investigações na época em que soube das denúncias, colocam o partido numa situação no mínimo desconfortável.
O descaso da direção partidária em relação à denúncia macula a aura de pureza do partido e um dos principais trunfos do PT, que era a imagem de fazer política de uma maneira diferente, mais ética.
Daquele partido que liderou greves e contribuiu para organizar a sociedade civil, nos anos 80, à agremiação que hoje disputa com chances os principais cargos eletivos do país passaram-se quase 20 anos. Nesse período, o PT se burocratizou; em detrimento do trabalho de organização de movimentos sociais, cresceu a importância da sobrevivência de seus quadros e dos interesses institucionais do partido, que veio a seguir o figurino sociológico típico do desenvolvimento dos aparelhos administrativos -o qual, ele mesmo, não é motivo de condenação moral.
O problema é que essa evolução cria um contexto em que a defesa da organização passa a ser um fim em si, abrindo espaço mesmo para práticas políticas viciadas. O partido já viu pelo menos um exemplo em que os valores foram deixados de lado em favor da subsistência da máquina partidária. Trata-se do caso de Cândido Vaccarezza, importante quadro do partido que era pago pela Câmara Municipal de São Paulo enquanto na verdade trabalhava para o PT.
A manutenção da imagem petista requer enfim uma investigação de fundo das presentes denúncias, com a devida prestação de contas a seus eleitores e à sociedade. Mas os problemas causados pela burocratização inevitável do partido não serão resolvidos pela comissão de inquérito instalada se, no caminho da maturidade, o PT deixar-se integrar à vida político-institucional do país com uma estrutura não vacinada contra seus mais que conhecidos vícios.

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