São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 1997
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O mercado de consciências

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Ofereço aos admiradores do talento, da honestidade intelectual e da competência do presidente da República algumas de suas idéias e intenções, emitidas há pouco tempo com a mesma cara e a mesma coragem com que hoje ele pede ordem e invoca baionetas. Tirei-as de um jornal do Rio, que, por sinal, é dos mais panfletários a favor do governo.
"Não entendo os homens quando estão no poder que não percebem, às vezes, que a grandeza é melhor para eles próprios do que aferrar-se mesquinhamente a um dia a mais de mandato (pronunciamento no Senado, em 9 de novembro de 1991)."
"Quem considerou baderna esta mobilização demonstra, apenas, que de democracia tem horror (artigo na Folha, em 19 de abril de 1984)."
"Há dados suficientes para mostrar que a questão das invasões reaparece com força quando a política habitacional deixa de proteger os desfavorecidos, dando margem ao reajuste de aluguéis que tornam inviável o pagamento pela camada mais baixa da população (artigo na Folha, em 1º de março de 1984. Na citação feita pelo jornal carioca, há pelo menos dois erros gramaticais que talvez não sejam do professor. Mas o blablablá dele é menos correto do que o de Sarney e Collor)."
Num rasgo profético sobre seu próprio futuro, temos esse clarão premonitório feito no Senado, em 5 de setembro de 84: "O que não é lícito não é a composição partidária, são os laterais, o que vem de cambulhada, o que vem junto, o que nunca é expresso. Isso é que é mercadejar consciências".
Como já disse, FHC foi profético. Num regime democrático, a composição partidária é lícita tanto para o governo como para a oposição. O ilícito, o imoral, o crime é justamente o que vem de cambulhada. Por exemplo: um ministro de Estado mercadejar consciências para dar, a um homem aferrado mesquinhamente ao poder, não mais um dia, mas quatro anos de mandato.

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