São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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Tizuka filma imigrantes bem-sucedidos

MARIANE MORISAWA
DA REDAÇÃO

A cineasta Tizuka Yamasaki se prepara para rodar dois filmes: o chamado "Gaijin 2", sobre os dekasseguis, brasileiros descendentes de japoneses que vão ao Japão para trabalhar, e "Santos Dumont, o Brasileiro Voador", sobre o inventor do avião.
Ambas as produções serão filmadas no exterior e contarão com dinheiro arrecadado por meio da Lei do Audiovisual e da Lei Rouanet, além de serem co-produções, respectivamente, com Japão e França. "Gaijin 2" está orçado em US$ 8 milhões, e "Santos Dumont" precisará de US$ 15 milhões.
Em ambos, há uma temática comum: imigrantes brasileiros que deram certo. Leia a seguir entrevista concedida à Folha, em São Paulo, onde ela deu um workshop.
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Folha - A senhora está preparando dois projetos, um sobre Santos Dumont e outro que é uma continuação de "'Gaijin"?
Tizuka Yamasaki - Não é uma continuação porque na verdade eu vou falar sobre os brasileiros que foram para o Japão. É a primeira vez que eu ouço que um grupo de brasileiros que está trabalhando fora tem uma imagem de gente trabalhadora e bem-sucedida.
Folha - A sra. acha que isso tem a ver com a ascendência japonesa?
Yamasaki - Talvez tenha a ver, sim. Porque, aqui no Brasil, a colônia sempre foi conhecida como honesta, trabalhadora, estudiosa.
Folha - No Brasil, os descendentes não se sentem confortáveis.
Yamasaki - Não, aqui também são considerados estrangeiros. Esse pessoal vai para o Japão e pensa: vou estar em casa. E então eles descobrem que são brasileiros.
Folha - Além desse projeto, existe o do Santos Dumont?
Yamasaki - Esse também está "taxiando". No Brasil, o Santos Dumont é o inventor, mas é aquele velho com chapéu enterrado na cabeça. Não se valoriza Santos Dumont, a personalidade extremamente interessante. Eu acho que é uma história que é poética e cheia de aventuras.
Folha - Não deixa de ser a história de um imigrante que deu certo.
Yamasaki - É um imigrante que deu certo. Fez uma das invenções mais importantes do século 20, e ele é um cara que conseguiu isso só por acreditar numa idéia.
Folha - Na biografia, a sra. vai inserir elementos ficcionais?
Yamasaki - Vou costurar as informações, segundo a minha imaginação. Eu ficcionalizo a vida pessoal, e a gente vai ter que obedecer a cronologia dos inventos. O filme é sobre o inventor, e não sobre a vida pessoal.
Folha - "Gaijin" furou a fila?
Yamasaki - Não foi bem assim. O "Gaijin" veio antes. Mas a Lei do Audiovisual atraiu empresas grandes, que queriam projetos de grande visibilidade. E aí tiramos da gaveta o "Santos Dumont", que já tinha roteiro. O que a gente fechar primeiro é o que vou fazer.
Folha - A sra. acredita no renascimento do cinema brasileiro?
Yamasaki - Eu não acho que seja renascimento, porque conheço gente que manteve a produção. Acho que hoje você tem mais condições de produzir. O problema é a distribuição. Eu acho que, enquanto não abaixar o preço do ingresso, a gente não vai ter público.
Folha - Isso atinge não só os filmes brasileiros.
Yamasaki - Atinge todos.
Folha - Então a sra. não acha que é um problema dos filmes brasileiros, que se afastaram do público.
Yamasaki - Ao contrário, eu acho que essa parada fez com que o cinema brasileiro chegasse mais perto do público. Há muitos estreantes, a variedade de temáticas e estilos é enorme.
Folha - A sra. gosta dos novos?
Yamasaki - São ótimos, bem-feitos e encantam o público. Tem que ter variedade. Todo filme tem seu público.

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