São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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ALMINO, AMAZONINO

As barragens erigidas pelo governo para conter a CPI da Reeleição mostram, cá e lá, pontos de vazamento. A operação "abafa" encontra resistência dentro da própria base governista. As reportagens sobre a compra de votos suscitam investigações que levantam suspeitas graves sobre alguns dos principais envolvidos no escândalo -como o governador do Amazonas-, o que reforça a tese de que há mais limpeza a ser feita nos subterrâneos do poder.
O deputado Almino Affonso, tucano de São Paulo como FHC, soprou as brasas do escândalo ao renunciar à relatoria do processo de cassação de deputados que teriam vendido o voto. Affonso alegou o que já era sabido -não teria poderes para realizar um inquérito sério. A atitude decerto tem um grão de espetáculo político, mas expõe, mais uma vez, outra encenação: a das comissões capengas com as quais o governo pretende varrer a poeira da crise.
Amazonino Mendes, apontado como atravessador dos votos da reeleição, torna-se uma figura cada vez mais duvidosa. Antes de seu nome emergir do gravador do "Senhor X", já era suspeita a movimentação do trator político do governador no Amazonas. Pedia a cabeça de um técnico desafeto por tentar moralizar a gestão da Zona Franca de Manaus, cobrando, depreende-se, o apoio que angariou para a emenda da reeleição. Agora, um amigo de Amazonino confessa ser seu testa-de-ferro numa empreiteira muito frequentemente contratada pelo Amazonas. Existem, pois, indícios que recomendam uma investigação dessa figura acusada de enlamear um projeto no qual se empenhou a cúpula do governo, o que, consequentemente, exigiria também um inquérito sobre a tramitação da emenda da reeleição.
Ainda que secundários, esses episódios mostram que, mesmo o governo trancando mais um esqueleto no armário, é possível que fantasmas ainda não materializados venham a assombrar o restante do mandato de Fernando Henrique Cardoso.

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