São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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A salada só piorou

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Era uma vez um candidato, o senador Fernando Henrique Cardoso, cujos íntimos juravam que a salada partidária que o apoiava não tinha a menor importância, porque "a hegemonia ideológica" seria do PSDB.
Ouvi essa expressão, em conversas separadas, às vésperas da eleição presidencial, tanto de Sérgio Motta como de Paulo Renato, hoje ministros das Comunicações e da Educação. E, hoje como ontem, duas figuras do círculo íntimo de FHC.
Vê-se, agora, que ou os dois foram enganados ou estavam mentindo. Primeiro, porque o PSDB jamais teve nenhum tipo de hegemonia sobre o governo FHC. Acabou sendo ator coadjuvante e dos menos importantes.
Segundo, porque a nova salada partidária que o governo está construindo consegue ser pior ainda do que a original.
FHC chama para o governo figuras que encarnam exatamente o PMDB do qual saiu e cujas práticas condenava. A mais notória, o senador Iris Rezende, novo ministro da Justiça, é o típico caudilho populista que o intelectual FHC simplesmente abominava.
Além disso, dá o principal papel político do governo ao PFL, um partido para o qual a palavra ideologia não tem a mais remota significação. Aliás, tem. Significa, sempre, ser governo, seja qual for o governo.
O PFL estava no poder com José Sarney. Aí, veio a candidatura de Fernando Collor, que, durante a campanha, dizia que o governo Sarney era um "ninho de corruptos".
O PFL abandonou o governo Sarney? Nada. Continuou com ele até que Collor assumiu.
Aí, com a maior cara de pau, bandeou-se para o novo poderoso, como se ele não tivesse acusado de corrupto todo o governo anterior.
Não é o caso, de todo modo, de condenar o PFL, que está onde sempre esteve, ao lado (e dentro) do poder. Quem mudou foi seu companheiro de viagem. Para pior.

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