São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Triatleta é atropelado em Brasília

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alexandre Manzan, 22, vice-campeão mundial de triatlon de 96, foi atropelado anteontem em uma estrada em Brasília, quando treinava para a etapa de Porto Seguro do circuito Ironman.
Manzan estava usando todo o equipamento de proteção para ciclistas, inclusive capacete, mas, ainda assim, perdeu parte do couro cabeludo e da orelha direita, fraturou os ossos tíbia e fíbula da perna esquerda e teve escoriações por todo o corpo, principalmente nas costas e nádegas.
O acidente ocorreu no feriado, por volta das 15h30. Manzan saiu com sua bicicleta nova, que usava pela quarta vez. Sob o banco, estava amarrada uma fitinha do Nosso Senhor do Bonfim. "Ele acredita muito nisso, é para proteção", disse sua irmã, Maíra.
Ele partiu do Lago Norte (área residencial de Brasília), onde mora, para um percurso de 110 km. No acostamento da estrada que liga Brasília a Unaí, um pouco após a entrada para a penitenciária da Papuda, o ciclista foi "interceptado" pelas costas por um carro, que testemunhas dizem ser um Córdoba branco. O motorista fugiu sem prestar socorro. A placa é desconhecida.
"Não lembro de nada. Só sei que estava na bicicleta e, de repente, estava no chão com pessoas em volta. Sentia muita dor nas pernas", disse Manzan.
O atleta não lembra, mas foi ele quem disse o número do telefone de sua casa a uma pessoa que parou o carro logo após o acidente e, de um celular, ligou para a família de Manzan.
"Foi uma senhora, não sei seu nome. Ela avisou e ficou ali me dando as coordenadas para chegar lá. Logo depois que ela parou, passou um veículo da polícia, que acionou uma ambulância", conta a médica Eneida Fontes, 45, mãe de Manzan.
Pedras de gelo
Ele recorda que, enquanto estava no chão, levantaram sua perna. "Nessa hora, ouvi um ruído, como se pedras de gelo estivessem batendo uma na outra dentro de um saco. Era o barulho do osso do pé todo quebrado. Doía muito e pedi para o policial segurar minha perna", diz Manzan.
A bicicleta ficou destruída. Com o impacto, o capacete, de fibra de carbono, rachou e o lado direito desapareceu. Manzan foi levado para o hospital de Base de Brasília e depois transferido para o hospital Santa Helena, onde foi operado.
"Não consegui dormir à noite de nervoso. Como estava anestesiado, não sentia as pernas, e fiquei preocupado", contou na manhã de ontem, já mais calmo e se recuperando da cirurgia.
"Jamais poderia pensar em sofrer acidente naquela estrada, que é larga, de mão única e sem movimento. Ando em lugares como o Eixão (avenida mais movimentada da cidade), muito mais perigosos."
Voltar a treinar é algo que Alexandre encara como "desafio". Atleta desde os 16 anos, ele deve ficar mais quatro dias no hospital e passar por uma recuperação de, no mínimo, quatro meses.
"Acidentes podem acontecer, é uma intercorrência, mas os atropeladores têm que socorrer a vítima", disse Eneida. "Ou não atropelarem", emendou Manzan.

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