São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Hipertenso costuma fugir do tratamento

NOELLY RUSSO
ENVIADA ESPECIAL A SAN FRANCISCO

O principal desafio para médicos de todo o mundo, reunidos na 20ª Conferência Anual de Hipertensão nos EUA, é convencer os pacientes hipertensos a seguir o tratamento.
A hipertensão é uma doença crônica, sem cura, que pode matar, mas que, se tratada, pode fazer com que o doente leve uma normal. Ela produz um aumento da pressão sanguínea do paciente, facilitando a ocorrência de infartos, derrames e problemas renais.
Se a doença estiver aliada a outros fatores de risco, como diabetes ou fumo, a possibilidade de haver problemas graves é maior.
Um dos motivos para os pacientes não darem continuidade ao tratamento é sua duração: a vida inteira. Outro motivo é o fato de os medicamentos poderem provocar efeitos colaterais indesejáveis.
"É preciso fazer um paciente que se sente bem tomar um remédio que pode provocar mal-estar. Ele simplesmente pára o tratamento", diz Décio Mion, 45, chefe da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Como a doença não provoca morte rapidamente, os pacientes também têm a tendência a subestimar seu potencial de dano a órgãos vitais, como o coração.
Estima-se que 20% da população brasileira tenha hipertensão, mas o percentual de pacientes identificados é pequeno. A estimativa usada para o Brasil é a mesma para hipertensos em todo o mundo.
Um dos motivos para a falta de diagnóstico seria o descuido dos próprios médicos, ao deixar de medir a pressão do paciente.
Um dos caminhos para melhorar o padrão de tratamento é controlar a pressão durante o dia inteiro. A maioria dos remédios baixa a pressão de manhã, quando a incidência de eventos cardíacos é maior.
Os medicamentos tendem a perder o efeito, fazendo com que a pressão suba antes de a nova dose ser administrada.
"A variação da pressão sanguínea deve ser evitada porque pode prejudicar órgãos vitais como o coração e o cérebro", afirmou Giuseppe Mancia, diretor do Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças Cardiovasculares, na Universidade de Milão (Itália).
"O paciente quer um remédio só, que ele tome uma vez ao dia e mantenha sua pressão em níveis aceitáveis, mas precisamos ter certeza de que esse paciente está realmente fora de perigo", disse.
Para Peter Meredith, da Universidade de Glasgow (Escócia), uma das primeiras medidas que o médico deve adotar é escolher um medicamento que "dure" mais, sem aumentar as doses -que causariam mais efeitos colaterais.
A conferência reúne cardiologistas especializados em hipertensão de todo o mundo e termina hoje.

A jornalista Noelly Russo viajou a San Francisco a convite do laboratório Roche

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