São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Airto caça talentos em PE

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Artistas e grupos regionais pernambucanos, de maracatu, forró e outros ritmos estão na mira da world music -mais precisamente da gravadora inglesa Melt 2.000, especializada no gênero.
Ex-parceiro de Miles Davis, com 40 discos gravados e detentor de um prêmio Grammy, o percussionista brasileiro Airto Moreira, 56, esteve de sábado até ontem em Recife à caça de talentos regionais para a Melt 2.000.
Uma apresentação especial de nove artistas e grupos pernambucanos foi organizada para ele, anteontem à noite, no Teatro Apolo, em Recife.
Moreira -que viajou ontem para Londres- levou também fitas demo de outros grupos.
A pré-seleção dos que se apresentaram anteontem foi feita pelo produtor musical pernambucano Giovanni Papaléo, amigo de Moreira.
A noitada de "caça-talentos" teve forró, maracatu, frevo, ciranda, coco, banda de pífanos, cantos indígenas e utilização de "instrumentos não-convencionais" (como um serrote) e até outros inventados em Pernambuco (como a cabala, de cordas).
Tudo "autêntico, original e desconhecido do mercado fonográfico", que é o que interessa à world music, segundo afirmou Moreira.
"O que eu vi aqui parece coisa do outro mundo. É uma coisa fantástica. É um tesouro o que existe aqui", entusiasmou-se Moreira.
Ao assistir apresentações do maracatu Nação Erê (formado só por crianças) e da Banda de Pífanos Cultural de Caruaru, Moreira disse que se conteve "para não chorar".
Ele garantiu que "com certeza surgirão contratos de gravação" para alguns dos artistas e grupos que viu, mas não precisou a data. "Agora vamos aguardar e entregar a Deus", disse o líder da Banda de Pífanos, Biu do Pife, que mora em Caruaru e é funcionário público estadual.
Airto Moreira é líder da banda Fourth World e há 29 anos mora no exterior. Contou que há cerca de três anos está atuando também como uma espécie de olheiro para a Melt 2.000, do inglês Robert Trunz, de quem ele é amigo.
A gravadora, até agora, tem caçado talentos apenas na África (Marrocos, Zaire e África do Sul). A vez, agora, afirma Moreira, é de Pernambuco -único Estado do Brasil que ele visitou como olheiro.
"O que se faz em outros Estados, como a Bahia, já foi muito explorado, comercializou-se", disse ele.
Moreira não disse quais os grupos ou artistas que poderão "ter um contrato" com o Melt 2.000. Mas, pelo menos em uma das apresentações da noite, ele fez questão de aplaudir de pé: a do músico Antúlio Madureira e sua orquestra.
Antúlio Madureira, na melhor apresentação da noite, só não fez chover: tocou as "Bachianas Brasileiras" número 5, clássico de Heitor Villa-Lobos, em um serrote velho, com uma vareta.

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