São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Médicos criticam técnicas marketeiras

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A busca constante por novidades não estaria levando muitos cirurgiões plásticos a supervalorizar a eficácia das novas técnicas e equipamentos, como o laser e o computador, na luta contra as rugas e os quilos a mais?
Alguns cirurgiões renomados acreditam que sim. Por isso, entre hoje e terça-feira, durante o 14º Congresso Mundial de Cirurgia Plástica, que se realiza em São Paulo, esses médicos defenderão mais comedimento no emprego de algumas dessas técnicas, que pululam pelos consultórios.
"As novidades são exploradas como uma arma para atrair clientes. No início, os resultados das novas técnicas parecem bons, mas, com o tempo, acaba-se geralmente descobrindo que sua eficácia é semelhante à dos métodos tradicionais", disse o brasileiro Ricardo Baroudi, presidente da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e do congresso.
Baroudi, por exemplo, não está convencido das vantagens do emprego do laser na plástica e tampouco endossa a chamada lipoaspiração ultrassônica.
Por se utilizar de um aparelho que emite ondas capazes de dissolver a gordura localizada, essa última técnica é apresenta por alguns médicos como mais eficaz e menos dolorida do que a lipoaspiração tradicional.
Foi numa cirurgia de lipoaspiração tradicional, procedimento consagrado na cirurgia plástica, que a comerciária Simone Fernandes de Oliveira, 28, morreu na quarta-feira passada quando era operada pelo médico Evaldo Luque na clínica Salt Lake, em São Paulo.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Farid Hakme, tem uma opinião nada elogiosa sobre alguns de seus colegas que sempre aparecem com alguma técnica pretensamente revolucionária importada de algum canto do planeta.
"Os marketeiros da cirurgia plástica vagam o mundo procurando novidades que lhes ajudem a atrair mais clientes para os consultórios", disse Hakme, que chegou a ter um aparelho de lipoaspiração ultrassônica, mas acabou encostando-o, desiludido com os resultados.
Os adeptos da "modernidade" na plástica reagem com naturalidade às críticas.
"Não indico o laser para qualquer caso", afirmou o cirurgião plástico Charles Yamaguchi, presidente da Sociedade Brasileira de Laser. "Mas, em algumas situações, como para tirar tatuagens, ele é a melhor alternativa, pois não deixa cicatriz."
Ewaldo Bolivar, presidente do setor de estética da Federação Latino-Americana de Cirurgia Plástica, é um dos poucos médicos do país que usa o computador para simular para o cliente o provável resultado da operação, prática condenada por muitos de seus colegas.
"Sou polêmico mesmo, mas não sou bobo", diz. "Se uso o computador há anos, é porque dá certo."

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