São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Floresta vira farmácia

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Um laboratório norte-americano está desenvolvendo três remédios a partir de plantas brasileiras.
A Shaman Pharmaceuticals, localizada em São Francisco, na Califórnia, pesquisou cerca de 7 mil plantas extraídas da floresta amazônica, testando-os como componentes de remédios.
A empresa é considerada uma das mais importantes no mercado norte-americano para identificação e desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos, através da otimização de componentes ativos de plantas tropicais.
"A maior parte das experiências não dá em nada, mas, se conseguimos desenvolver um remédio que funcione com perfeição, podemos nos considerar vitoriosos", afirmou Megan Ravel, diretora de comunicações da Shaman.
Dois dos medicamentos utilizaram látex de crotão da Amazônia.
O primeiro produto é o Provir, para casos de diarréia crônica. O remédio já passou com sucesso por uma primeira etapa de testes. No primeiro trimestre de 1997, passou por uma segunda bateria de testes. Se aprovado, a Shaman espera atingir um mercado de 26 milhões de clientes. "Uma das possibilidades é usá-lo em pacientes com Aids, que sofrem de diarréia. Os primeiros testes com portadores do vírus HIV também estão sendo realizados."
O Virend, o segundo produto, é para o herpes genital, uma doença até hoje aparentemente sem cura.
O herpes genital é provocado por um vírus e provoca lesões que duram até 15 dias.
Depois da erupção das lesões, o vírus fica num estado de dormência, mas pode retornar quando o sistema imunológico do paciente está prejudicado.
Só nos Estados Unidos há cerca de 30 milhões de pessoas com herpes genital, além de 500 mil novos casos reportados por ano.
O terceiro produto, que segundo Megan Ravel terá como um de seus componentes extratos de plantas brasileiras, será usado para combater micoses de pele.
Como ele só entrará em fase de testes no segundo semestre, Ravel não quis adiantar que plantas foram utilizadas.
Ajuda comunitária
Quando consegue desenvolver um novo medicamento, a empresa o patenteia e, aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula e aprova alimentos e remédios nos Estados Unidos, inicia sua produção.
"Não gostamos de repassar o direito de produção para outras empresas e receber royalties. Preferimos nós mesmos produzir e, depois, exportar o remédio."
Segundo Ravel, quando desenvolve um novo remédio a partir de uma planta tropical, a Shaman realiza, com parte dos lucros, obras sociais na região de origem.
"Depende de quanto faturamos com a descoberta e depende daquilo que a comunidade local, da região em que encontramos a planta, precisa. Pode ser uma escola, um hospital, uma creche, o que for", declarou. "Mas os direitos de propriedade sobre o remédio são nossos, porque fomos nós que o desenvolvemos."
Insetos
Não é só na produção de remédios que produtos brasileiros são utilizados. Em alimentos fabricados nos EUA, insetos da floresta também são usados. E não só insetos. Bactérias e vírus, também.
Quem fez a denúncia foi a cientista Rebecca Goldburg, do Fundo de Defesa do Meio-Ambiente, uma organização norte-americana que não tem fins lucrativos.
"A engenharia genética está introduzindo genes de bactérias, vírus e insetos retirados da floresta amazônica em frutas, cereais e verduras", denunciou.

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