São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Suharto prepara dinastia na Indonésia

DA REDAÇÃO

Vencedor absoluto da eleição parlamentar da última quinta-feira, o presidente Mohamed Suharto, da Indonésia, já prepara a estratégia para manter a sua família no comando do país, na eleição presidencial de 1998.
Ele ainda não anunciou uma decisão sobre se tentará o sétimo mandato de cinco anos -o que é amplamente esperado. Mas, se desistir, deve indicar sua filha mais velha, Siti Hardianti Rukmana, para sucedê-lo.
Suharto, 75, governa a Indonésia há mais de 30 anos, se valendo de um sistema controlado por ele próprio, com eleições indiretas e uma oposição tolerada de apenas dois partidos (veja quadro abaixo).
Rukmana, 48, atraiu grandes multidões em sua campanha para o Parlamento. Segundo analistas, ela deve ser incorporada ao gabinete do pai no próximo ano. A filha mais velha de Suharto é também um dos sete vice-líderes do Golkar, o partido governista.
Se ela for indicada para a Presidência, é virtualmente impossível que perca a eleição. O colégio eleitoral, de mil componentes, é na maior parte escolhido ou aprovado pelo próprio Suharto.
Família poderosa
Rukmana é, depois do patriarca, o membro mais em evidência de uma família que virtualmente controla o quarto país mais populoso do mundo. Ninguém sabe quanto vale seu patrimônio, ainda que os palpites variem de US$ 8 bilhões a US$ 30 bilhões, numa estimativa da CIA de 1989.
A filha mais velha foi candidata pela primeira vez ao Parlamento na última quinta, junto com seu irmão Bambang. O marido de Rukmana é um general em ascensão na importante estrutura militar indonésia, um dos suportes do regime.
Os dois irmãos estão entre os 13 empresários mais ricos do país, um dos mais prósperos do Sudeste Asiático. Com outros familiares, têm negócios em praticamente todos os ramos estratégicos da economia: telecomunicações, geração de energia, bancos, empresas aéreas e automobilísticas, entre outros.
Eles são frequentemente acusados de serem beneficiados com os grandes contratos e concessões do governo.
Rukmana demonstra um certo desinteresse pela vida política ("A família Suharto não precisa ser eleita presidente ou vice-presidente", costuma dizer), mas a estratégia de Rukmana para suceder ao pai transparece em alguns gestos.
Por exemplo, no apoio que ela dá a projetos beneficentes conduzidos por entidades muçulmanas. É uma forma de conter o crescimento do Partido do Desenvolvimento Unido, de orientação islâmica.
Oposição
Os resultados de quinta-feira, parciais, mostram que Suharto ainda consegue manter seu domínio sobre o arquipélago, mas em grande parte por causa do sistema eleitoral, que favorece fraudes e pressões sobre eleitores.
O partido que lhe dá sustentação, o Golkar, detinha mais de 70% dos votos, na última parcial.
O que não quer dizer que tenha sido uma eleição tranquila para Suharto. Pelo contrário, foi a mais violenta da história e deixou um saldo de cerca de 300 mortos.
Suharto teve de convocar os militares para reforçar a segurança. Só em Jacarta, a capital, foram mais de 25 mil soldados.
Os militares de certa maneira dominam a vida do país no governo Suharto, ele próprio um ex-general. Eles são proibidos de votar, mas têm 75 vagas reservadas no Parlamento -eram cem até 1992.
Não se sabe, porém, até que ponto Suharto poderá tirar poder dos militares. A campanha eleitoral deste ano foi uma boa amostra.
No incidente mais grave dela, no sul da ilha de Bornéo, mais de cem pessoas morreram em um incêndio criminoso provocado pelo choque entre governistas e oposicionistas. No dia da eleição, houve ataques dos independentistas de Timor Leste em várias localidades da antiga colônia portuguesa, anexada no governo Suharto.
Mas o sinal mais claro do descontentamento popular apareceu em 1996, quando Megawati Sukarnoputri foi destituída da liderança do Partido Democrático Indonésio. Por vários dias houve tumultos e várias prisões. As manifestações acabaram incorporando várias correntes políticas.
A carismática Sukarnoputri -que, nesta eleição, foi impedida de concorrer- parece ser a pessoa mais hábil para encabeçar a oposição. Por coincidência, ela é filha de Ahmed Sukarno, o único outro presidente que o país já teve e que foi deposto por Suharto.

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