São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Escritor sintetiza oposição a regimes

DA REDAÇÃO

Um escritor, há vários anos cotado para o Prêmio Nobel de Literatura, se tornou o símbolo da oposição ao regime de Suharto. Após passar 14 anos na prisão, sem nem mesmo ter acesso a papel e lápis, e agora vivendo sob liberdade vigiada nos arredores de Jacarta, Pramoedya Ananta Toer é hoje o mais conhecido dissidente indonésio no exterior.
Isso porque, aos 72 anos, Pramoedya viveu ativamente todos os regimes da Indonésia -a colonização holandesa, a ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, os anos de governo de Sukarno, o tumulto que se seguiu e, desde 1968, a Presidência de Suharto.
Quando criança, seu pai, um professor nacionalista, deixou uma escola colonial para trabalhar por 10% do salário em uma organização reformista em Java, que fracassou nos anos 30.
Durante a Segunda Guerra, a colônia foi invadida pelos japoneses. Vistos de início como libertadores, logo se revelaram cruéis, com roubos e estupros praticados pelos soldados e presenciados pelo próprio escritor.
Com o fim da Segunda Guerra e a declaração de independência, seguiu-se um conflito anticolonial que, em 1949, foi vencido pelos homens de Sukarno. Pramoedya estava entre os guerrilheiros que lutaram contra os holandeses. Foi quando foi pela primeira vez levado à prisão. Saiu de lá com seu primeiro livro, "O Fugitivo".
Foi um dos primeiros livros publicados em bahasa indonésio, o dialeto malaio que, tornado língua oficial do novo país, possibilitaria a unidade entre as 13.677 ilhas.
Independência
Com a independência, veio o governo Sukarno, que, como Pramoedya, flertou com o comunismo. A proximidade entre o escritor e o presidente, entretanto, não evitou que Pramoedya fosse levado novamente à prisão, em 1960, por criticar o tratamento que o governo dava à minoria chinesa no país.
Em 1965, uma ação militar de direita enfraqueceu Sukarno e abriu caminho para que o general Suharto ganhasse mais poderes (em 1966), assumisse o governo interinamente (1967) e depois em definitivo (de 1968 até hoje).
Nessa época, meio milhão de indonésios suspeitos de ligação com o comunismo foram mortos. Pramoedya teve a casa invadida e foi preso sem acusação formal por quatro anos em Jacarta.
Na prisão de Buru, onde ficou os dez anos seguintes, ele compôs a série de livros que formam o principal de sua obra -"Esta Terra da Humanidade", "Filho de Todas as Nações", "Pegadas" e "Casa de Vidro".
O governo Suharto considerou essas obras "venenosas". Juntas, elas reconstituem, usando um personagem como fio, a passagem da colonização para a independência -o que o crítico Jamie James chamou, na revista "New Yorker", de "Indonesíada", ou seja, a epopéia que, como a Ilíada, é a narrativa fundamental de uma nação.

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