São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Infância virtual

ADRIANA VIEIRA

"Bichinhos" japoneses e chineses exigem cuidados e conquistam os filhos e os pais
Lançado no final de abril no Brasil, o bichinho de estimação virtual -que no Japão virou mania e vendeu 1 milhão de unidades em menos de seis meses- está saindo das mochilas das crianças e caindo nos bolsos dos adultos.
Proibidos de levar nas salas de aulas, os alunos são obrigados a deixar o brinquedo com os pais, já que o bichinho não sobrevive se ficar sozinho -precisa ser alimentado e higienizado nos horários certos, entre outros cuidados (veja quadro), ou pode ficar doente. E quem não pode ficar com ele em casa leva para o escritório.
O consultor de franchising Marcelo Cherto, 43, já chegou a interromper uma reunião com executivos de uma multinacional porque o Gyaoppi (versão chinesa do brinquedo) de sua filha precisava de cuidados.
"Fiquei com ele no bolso, pois minha filha não podia levá-lo na escola. Na reunião, ele começou a apitar, avisando que havia feito cocô. Como tinha intimidade com os executivos, pedi licença para limpar o bichinho. Quando souberam do que se tratava, todos ficaram fascinados e pararam com a reunião", conta Cherto.
Os filhos do consultor, Fernanda, 9, e Ricardo, 7, compraram dois Gyaoppis com a mesada há cerca de vinte dias. "Quando eles me pediram, achei melhor não dar. Mas agora acho que o brinquedo tem um lado interessante, pois dá à criança uma certa responsabilidade", afirma Cherto.
E haja responsabilidade. Cherto conta que deixou o bichinho por duas horas no carro sozinho enquanto ia a uma outra reunião. "Quando voltei, ele já estava doente."
O bichinho funciona como um videogame. Para dar a ele todos os cuidados de que necessita, basta selecionar seus menus, apertando botões.
A psicóloga Vania Bressani, 34, também está cuidando do bichinho virtual de sua filha, Bárbara, 10, que cursa a quarta série do primário.
"Ela fica desesperada, porque não pode levar o Tel (nome que Bárbara deu ao brinquedo) na escola. Então, quando não tenho uma reunião importante, acabo levando-o ao trabalho, à aula de inglês, e todos ficam sempre curiosos", diz Vania.
Segundo ela, sua filha sempre teve vontade de ter um animalzinho de estimação, mas o pai sempre proibiu. "O brinquedo de certa forma supriu essa carência de Bárbara. Mesmo sabendo que é virtual, ela se dedica a ele. À noite, faz questão de dormir com ele perto e sempre levanta às 8h, horário que o bichinho foi programado para acordar".
Já para os filhos de Cherto, Fernanda e Ricardo, o bichinho representa só uma diversão. "Não dá para comparar com meu cachorrinho, que posso abraçar e beijar", diz Fernanda.
Creche para o bichinho
Um grupo de proprietários do brinquedo, apoiados pela Samtoy, representante do Tamagotchi (o brinquedo japonês, fabricado pela Bandai) no Brasil, já estuda a criação de uma creche para abrigar o bichinho virtual quando as crianças ou os pais não podem cuidar.
Segundo o diretor-financeiro da Samtoy, Glauco Lima, já existe uma creche do Tamagotchi no Japão.
"A vida útil estimada para o Tamagocthi é de 28 dias, que, para ele, representa 28 anos. Mas temos notícias que só três pessoas -duas no Japão e uma na Espanha- conseguiram mantê-lo vivo por esse período. É preciso dedicação", afirma Glauco. No entanto, basta apertar a tecla "start" para um novo bichinho nascer.
Comercializando o produto desde 19 de maio, a empresa já vendeu mais de 50 mil unidades para várias lojas em todo o país. O Mappim, que vende a versão Gyaoppi, importada pela empresa Neo Toys, também espera comercializar 50 mil unidades nos próximos seis meses.

ONDE ENCONTRAR Samtoy: tel. 259-9100 (informações sobre pontos de venda), em média R$ 55 (preço do Tamagotchi). Mappim: pça. Ramos de Azevedo, 131, centro, tel. 214-4411, R$ 57 (preço do Gyaoppi). Site do Tamagotchi na Internet: http://www.matsuda.com/jun/tamago/

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