São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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a análise dos desenhos

FRANCISCO B. ASSUMPÇÃO JR.

Meu filho de seis anos descreveu o seu desenho como sendo dois irmãos brigados e a mãe ao centro. Gostaria de uma análise dele, pois sinto que estou sobrecarregando meu filho. Ele não tem irmãos e eu sou solteira. Marly.
O desenho é uma forma de comunicação que tem o lado lúdico e prazeroso da brincadeira. Ao mesmo tempo, permite que a criança pense, estruture idéias e construa um mundo real e imaginário.
Segundo alguns estudiosos, a criança começa desenhando mais o que sabe do fato do que aquilo que realmente vê. Assim, antes de copiar situações reais que presencia, ela desenha aquilo que conhece de uma pessoa ou de um objeto.
É a partir dos sete ou oito anos que ela começa realmente a desenhar aquilo que vê. Paralelamente, com o desenvolvimento de um padrão moral próprio e não mais copiado dos pais, ela passa a criticar mais a sua produção, ocultando mais aquilo que pensa.
Entretanto, ao mesmo tempo em que é claro que a criança se projeta em suas produções -desenhos, brincadeiras- revelando desejos, frustrações e aprendizado, é também claro que a observação desses fenômenos não pode ser considerada de maneira linear e simbólica, com cada elemento tendo um significado específico. O desenho nada mais é do que uma forma de representação da existência infantil, só podendo ser compreendido dentro de um contexto. Dessa maneira, deve-se ser muito cauteloso na interpretação de desenhos ou jogos infantis. Eles apenas proporcionam mais um elemento para que o profissional possa, apoiado em uma história clínica e no exame, obter maiores informações sobre a criança.
Dessa maneira, um desenho isolado não tem significado. A respeito do desenho enviado, algumas poucas coisas podem ser ditas. O autor representa somente a figura materna, provavelmente a mais importante dentro de sua constelação familiar, sozinha (uma vez que representa-a da forma como a conhece) e a figura de outra criança, que pode ter vários significados, que só podem ser considerados em função da própria criança.
Em realidade, a outra criança pode representar desde aspirações do desenhista até o reconhecimento de companheiros, a necessidade de companhia ou várias outras possibilidades.
Mas é importante saber que desenhos não permitem a previsão de condutas ou da evolução da criança, sendo somente mais uma possibilidade para que possamos compreendê-la dentro de seu mundo e de sua realidade.
Diretor do Serviço de Psiquiatria Infantil do Hospital das Clínicas

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