São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Os 'pais' dos neopunks tocam em SP

IVAN MIZIARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma lenda viva da história da punk/surf music toca amanhã em São Paulo. Direto da Califórnia para o palco do Palace, pela primeira vez no Brasil, o Agent Orange.
Para quem não conhece, o trio, fundado no início dos anos 80 pelo guitarrista e vocalista Mike Palm, é uma das principais influências de bandas neopunks como Green Day, Rancid, NOFX e Pennywise.
O nome do grupo é um trocadilho que brinca com o município onde moram (o não menos lendário Orange County, que gerou bandas como TSOL e o platinado Offspring) e o poder mortal do tenebroso desfolhante químico.
Seu som não é menos poderoso. Aos acordes guiados pelo mestre Dick Dale ("The King of Surf Guitar"), um dos pioneiros da música feita para surfistas, eles acrescentaram a velocidade e a fúria do punk rock. O som demolidor é totalmente desencanado e divertido.
A banda veio promover seu novo álbum, "Virtually Indestructible". Há 17 anos na estrada, eles não lançavam disco desde 1986 (leia texto à direita).
Logo que chegaram ao hotel, no centro da cidade, Palm conversou com a Folha e confessou que seu maior prazer é tocar, que detesta o Offspring, pois eles fazem um trabalho que "não tem nenhuma surpresa", e que a cidade de Orange é como uma "Disneylândia do punk". Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
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Folha - Qual a principal diferença entre o seu novo disco "Virtually Indestructible" e seus álbuns anteriores?
Mike Palm - A primeira é que nós mesmo produzimos o disco. A segunda é que eu aprofundei mais meu trabalho como letrista. Eu dei um valor maior às palavras colocadas nas músicas.
Folha - Em 1997, depois de tanto tempo na estrada, sobre o que o Agent Orange está falando?
Mike Palm - Bem, nós passamos a ver as coisas de maneira mais positiva. Eu acredito que você pode fazer com que as coisas melhorem, basta querer. Depende apenas de ter idéias próprias, não se deixar levar pela cabeça dos outros. Se existe uma mensagem, é essa: seja você mesmo.
Folha - A função de sua música é essa?
Mike Palm - A única função da minha música é divertir as pessoas, fazer com que elas passem algumas horas agradáveis, cheias de energia. O resto, cada um entende como quiser.
Folha - Você acredita que bandas como Green Day e Offspring são clones do Agent Orange?
Mike Palm - Não, eu não penso assim. Quando nós começamos, eu era garoto e quis formar uma banda porque alguns grupos me inspiraram. Eu fico orgulhoso por ser uma fonte de inspiração para bandas mais jovens, como o Green Day. Quanto ao Offspring, não acho que sejamos modelo para eles.
Folha - Por quê?
Mike Palm - Bem, o Offspring, diferentemente do Green Day, não tem originalidade, não traz surpresa alguma. Eu não gosto deles.
Folha - Vocês têm respeito, prestígio, influência, mas não fazem tanto sucesso como essas novas bandas de punk. É frustrante isso?
Mike Palm - Nós nunca quisemos ser milionários. Nós gostamos de tocar, somos uma banda para fazer shows em clubes, agitar. Nós somos underground e estamos bem assim. Passamos vários anos sem lançar disco porque não tínhamos grana, mas nosso público é fiel e continua indo nos ver em qualquer lugar que tocamos. Isso é o mais importante.
Folha - O começo foi difícil?
Mike Palm - Nós tivemos sorte. Naquela época punk/hardcore tudo era menos acessível, havia preconceito, as pessoas tinham medo da gente. Por outro lado, a cena punk na Califórnia era bem movimentada, existiam muitos clubes em que podíamos tocar. O punk era mais uma questão de atitude, e nós conseguimos consolidar nossa reputação.
Folha - Quais bandas mudaram sua vida?
Mike Palm - Ah, várias. Dick Dale e a surf music foram fundamentais. Ramones e Television também. E as bandas punk de Los Angeles, como Germs e X.
Folha - O que você achou da volta do Sex Pistols?
Mike Palm - Achei legal, porque eu nunca tinha visto a banda ao vivo. Eles são uma lenda, e eu fiquei emocionado no show. Mas alguma coisa faltou, acho que foi "excesso de profissionalismo".
Folha - Qual o segredo do Orange County?
Mike Palm - Pense na Disneylândia, cheia de bandas punk. É festa o tempo todo. E é próxima de Los Angeles. Mas as bandas de Orange são diferentes, tentam expressar coisas diferentes.
Folha - O que vocês estão esperando desses shows no Brasil?
Mike Palm - Nós ouvimos falar muito bem da cerveja e das garotas daqui. Estamos esperando shows com muita energia e diversão.
Folha - Você tem planos para o futuro ou "não há futuro para vocês"?
Mike Palm - Não, cara, nós estamos recomeçando, temos muitos projetos para o futuro.

Show: Agent Orange
São Paulo (amanhã, dia 3), no Palace, av. Jamaris, 213, tel. 011 531-49100, às 21h30. Preços: R$ 25 (pista) e R$ 35 (camarote)/ Porto Alegre (quarta, dia 4), tel. para informações 051 211 2838/ Maringá, no Paraná (quinta, 5), tel. 044 226-1866.

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