São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Reportagens do 'Metrópolis' dão ar mais pessoal à TV

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Toda segunda-feira, desde fevereiro, o "Metrópolis" exibe três minutos de um filme inusitado ao final do primeiro bloco do programa. Cineastas, artistas plásticos, músicos, comparecem com pequenas observações sobre o urbano no quadro "Matéria Assinada". Algumas contribuições atingem um grau de poesia raro na TV.
"Murilolendo", uma homenagem do cineasta Carlos Reichenbach, familiares e amigos, ao poeta Murilo Mendes foi um dos primeiros filmes exibidos no "Matéria Assinada". Trata-se de uma emocionante montagem de leituras da obra do poeta. A matéria literária aqui se beneficia do vídeo.
O espaço é pequeno e os recursos restritos a equipamento e material. As contribuições são diversificadas em estilo e linguagem. Uns aproveitam a infra-estrutura da TV Cultura para realizar reportagens inusitadas.
É o caso da atriz, diretora e roteirista Lili Fonseca, com sua hilária autoinvestigação sobre workahólicos em São Paulo. Ou do artista plástico Ivald Granato, com a reportagem sobre as artes que gostaria de ver na TV.
Outros aproveitaram trabalhos anteriores. O diretor Joel Pizzini produziu uma colagem de alguns de seus filmes, que resultou em um bonito clipe poético de Itamar Assumpção sobre São Paulo. Francisco César Filho selecionou trechos sobre a Mooca.
A BBC de Londres produziu pelo menos duas séries com espírito semelhante ao do "Matéria Assinada". Poemas visuais de um minuto baseados em clássicos da poesia inglesa que funcionavam muito bem como interprogramas. E leituras do noticiário do dia feitas por artistas não especializados em televisão, exibidas como matéria de destaque no jornal da noite. Mas são iniciativas isoladas.
Poemas visuais ou clipes poéticos são raridade na TV. A programação corriqueira é formatada de acordo com convenções muito definidas, regras que os profissionais da reportagem e da ficção dominam bem e que são facilmente reconhecidas pelo público.
O tom impessoal da notícia talvez seja a mais forte dessas convenções. Quando o assunto é cultura, esse tom é quase sempre temperado por uma invariável boa vontade com o que é apresentado.
Com a criação do "Matéria Assinada", o "Metrópolis" abre espaço para intervenções personalizadas, olhares subjetivos que podem e devem fugir às regras dessa gramática convencional. A curta duração é adequada e eficaz. Hoje à noite vai ao ar a contribuição do artista gráfico Rudi Bhn sobre a poluição visual na cidade.

E-mail: ehamb@uol.com.br

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