São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Bucicleide presta homenagem à seleção tapuia

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Terça-feira, dia 3, 15h40: me encontro no aconchego do lar, balde de pipoca microondas no colo e latinha de Fanta laranja no braço do sofá, pronta para ver a bola rolar no Stade Gerland de Lyon.
Toca a campainha. Será o homem do cartão Visa, que veio cobrar in loco -e em parcela única- o extrato de meu gasto das férias no exterior?
Pior do que voltar de viagem e descobrir que o governo mudou mais uma vez as regras e que, agora, gastos no cartão feitos no exterior têm de ser pagos de uma só vez; pior do que esperar o homem do cartão de crédito tocar a campainha bem na hora do jogo Brasil x França é abrir a porta e dar de cara com minha tresloucada amiga Bucicleide, fantasiada de torcedora: bochechas pintadas de verde-amarelo, camisa e short da seleção brasileira e, pasme, careca.
"Pelo amor de Deus, Bucicleide!", exclamei, antes que alguém pudesse dizer "Comment-allez vous, Cantona?". "O que houve com seu cabelo? Você entrou na faculdade?"
Buci, digo, Cleide, me empurrou porta adentro e foi logo reclamando: "Deveria ter colocado minha outra fantasia, aquela de Gagallo em dia de frio, com anoraque e gorro. Estou congelando". Gagallo, que Gagallo? Minha amiga deve andar batendo mais pino do que o normal, pensei.
A resposta estava na ponta de sua língua bifurcada: "Gagallo é uma homenagem ao grande técnico, uma mistura de gagá com Zagallo".
Na careca, outra homenagem: "Tinha cortado curtinho, a la Romário, mas depois de ver o Ronaldinho de baixo-astral contra a Noruega, raspei a zero para dar uma força".
Por uma vez Bucicleide acertou. O humor de Ronaldinho andou mesmo capenga. E a Nike, que gastou milhões para contratá-lo, deveria abrir o olho: se outro jovem esportista patrocinado pela marca, o golfista Tiger Woods, tem um psicólogo à disposição 24 horas, Ronaldinho podia, ao menos, ter alguém para o aconselhar a superar baques como a novela da renovação com o Barça.
Passei o jogo temendo que a polícia baixasse em casa para saber quem estaria urrando obscenidades pela janela. Ao final da partida, rouca de tanto gritar, Bucicleide confirmou minhas suspeitas. Enlouqueceu de vez. Não é que ela foi embora dizendo: "O Gagallo montou um time azeitadíssimo. Já ganhamos o penta!"

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