São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Romeiros vêm de todo o Nordeste para ver o frade

MAURICIO STYCER
DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Ônibus vindos de todos os Estados do Nordeste chegaram ontem a Recife, trazendo romeiros que sonhavam em ver o corpo de frei Damião na basílica da Penha.
Só para se ter uma idéia do tamanho do sacrifício, veja o que ocorreu com uma caravana de 25 fiéis de Orocó (620 km de Recife).
Eles deixaram a cidade na noite de anteontem, viajaram de ônibus durante dez horas, chegaram a Recife de madrugada e depois enfrentaram quatro horas de fila para passar durante 15 segundos em frente ao caixão de frei Damião.
Para descansar dentro do ônibus, os fiéis dividiam duas redes.
Como milhares de outros romeiros, cada fiel de Orocó tinha uma história de milagre praticado por frei Damião para contar.
A agricultora Josefa Maria da Conceição, 53, por exemplo, contava como frei Damião "exorcizou" sua filha, "espantando o espírito" que afligia a menina.
"Ela caía no chão e não tinha o que a segurasse. Fazia tanta munganga (trejeito), punha batom, fingia que estava com um revólver na mão. Eu não sabia o que fazer. Aí frei Damião rezou e a menina ficou boa. Não baixa mais o espírito. Mas ela ficou nervosa", contou.
Maria Antônia Neves, 69, de Patos (Paraíba), viajou sete horas até Recife para ver frei Damião e contar que foi testemunha de três milagres realizados pelo religioso.
Três milagres
O primeiro ocorreu em 1953, quando nasceu um filho de Maria Antônia.
A criança estava para morrer, quando foi vista por frei Damião. O frade rezou e, diz ela, a criança sobreviveu.
O segundo milagre aconteceu em 1978. Maria Antônia estava num caminhão que virou. Ela se viu embaixo da carroceria e gritou por "São Damião". Quebrou algumas costelas, mas sobreviveu.
O terceiro milagre, conta, ocorreu no último sábado. A romeira estava mal, de cama, quando soube da morte de frei Damião. Imediatamente, diz, sentiu-se melhor e capaz de enfrentar a viagem para ver o religioso.
Sem dinheiro para ficar em Recife, romeiros de Santa Cruz do Inharé, no Rio Grande do Norte, viajaram seis horas, viram o corpo e voltaram. Cada um pagou R$ 15 pela viagem.
"Conheço vários milagres dele. Eu, graças a Deus, nunca precisei. Mas ele já curou muita gente que estava confirmada para morrer", disse o aposentado José Pereira, à porta do ônibus.
"Ele não é um frei. É são Damião", reforçava Maria Cordeiro, 87, que veio de Campina Grande (Paraíba) para ver o corpo do religioso.

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