São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Jack Miles explica sua biografia de Deus

DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor norte-americano Jack Miles, autor de "Deus - Uma Biografia", realizou conferência anteontem à noite no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, no primeiro evento da série "Autores", promovida pela Folha, Unibanco e editora Companhia das Letras.
Após algumas palavras de apresentação em português, Miles iniciou a palestra descrevendo as características mais tradicionais de Deus: como uma entidade masculina, boa e que pode punir.
Em seguida, lançou mão de duas anedotas sobre Deus -uma envolvendo computadores, a outra, cientistas- para mostrar que o homem ocidental, mesmo no caso de não acreditar em Deus, tem sua personalidade afetada por Ele.
"Deus não é uma máquina, nem tampouco um cientista. Aprendemos a esperar que Deus seja uma combinação de juiz e rei. A idéia que temos de Deus foi formada no Antigo Testamento. Meu livro pretende aguçar o entendimento dos leitores a respeito da influência cultural que Deus tem sobre eles", afirmou o escritor.
Miles justificou sua opção de escrever uma biografia literária sobre Deus dizendo que é impossível fazer um livro histórico ou teológico a respeito do assunto.
"A crítica literária pode ir onde a história não vai. Se poucos o fizeram até agora, não foi devido à sua disciplina", disse.
O ponto principal de seu trabalho, segundo o escritor, é a leitura da Bíblia de forma linear, do começo ao final, de modo que ficam evidentes as mudanças no "personagem principal". Ele afirma que, para os teólogos, cada verso da Bíblia pode ser unido a outro, afinal "tudo é divino". Já os historiadores deixam de lado o que não teria relevância documental.
Então, os compara a observadores de uma escultura. A obra está fixa, imóvel, é o observador que muda de ângulo, de perspectiva. Miles propõe uma abordagem diferente: ver a história de Deus por meio da Bíblia, como num filme, em que a sequência de imagens é que produz o efeito, enquanto o expectador está imóvel.
"O que é desconfortável para a teologia, irrelevante ao historiador, interessa à crítica literária." Essa leitura não é sempre fácil. "Ela revela diferenças internas na personalidade de Deus, que parece ter personalidades distintas", diz.
Segundo o escritor, Deus é mostrado como o "Senhor", como o "Guerreiro", como tendo interesses morais de relações internacionais, interessado pelos pobres e como "Pai", em momentos bem distintos da narrativa bíblica.

O evento tem o apoio do hotel Caesar Park e do Espaço Unibanco de Cinema

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