São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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JANIO DE FREITAS

A discrição, para usar uma palavra bem suave, com que jornalistas de política e economia tratam fatos como a obstrução dos governistas à votação da "reforma" administrativa é, involuntariamente, uma auto-acusação muito abrangente.
Não apenas é sonegado ao leitor-espectador o conhecimento, no todo ou na parte principal, de um fato que expõe a responsabilidade do governo, e não das oposições acusadas por Fernando Henrique Cardoso, pelo retardamento das "reformas". Em comportamentos como esse de agora, o jornalismo oficioso acusa-se também da longa leviandade, para usar outra palavra bem suave, com que encobriu todas as outras operações de protelação das "reformar", durante ano e meio, para evitar dissenções talvez prejudiciais ao projeto da reeleição. As oposições pagaram pelo que nem conseguiriam fazer, por mais que quisessem. Mas as oposições não são gasosas. São compostas por pessoas que, sobre esta condição já por si definitivamente considerável, se incluem quase todas nos 20%, mais ou menos, de deputados dignos no comportamento e sérios no trabalho. A maldade da injustiça com as pessoas e os possíveis prejuízos eleitorais à sua condição de políticos, isto não pesa nas consciências do jornalismo que abomina o leitor-espectador, por preferências mais que suspeitas.
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Não há maior clareza, parece que nem mesmo para os personagens centrais, quanto à natureza e às perspectivas do acúmulo de desentendimentos, convites, demissões, desabafos, traições e toneladas de falsidades nas tumultuosas relações de Fernando Henrique com os parlamentares governistas e entre eles próprios.
Na confusão, o convite a Luís Eduardo Magalhães para coordenador político do governo, como líder do bloco governista na Câmara, é o que nossos avós chamariam de chover no molhado. Desde que Fernando Henrique assumiu, o Magalhães filho não fez outra coisa senão coordenar para o governo, não se poupando, em tal papel, nem o uso inadmissível do cargo de presidente da Câmara.
O toque de novidade no convite foi a demissão do deputado Benito Gama da liderança do governo. Como líder, foi sempre muito competente nas articulações, eficiente como operador e leal ao PFL e a Fernando Henrique. Além disso, e como sempre, muito imaginoso na criação de manobras. Sua demissão sem ao menos uma palavrinha de aviso por Fernando Henrique é mais do que grosseria: é a indignidade imensurável que se chama ingratidão.
Não acaba aí a novidade, porém. Luís Eduardo não se dispôs a ocupar um cargo que alguém, por vontade própria ou não, deixou vago. Era um cargo ainda com ocupante, ainda por cima, inadvertido do que lhe reservavam e que não dera motivo para esperar desconsiderações. A disponibilidade de Luís Eduardo para Fernando Henrique já modificou muito a imagem que fizera, o que tornava dispensável o acréscimo agora feito.
Pelo menos uma certa ética para uso interno, até os bandos de gângsteres e a máfia têm (refiro-me aos gângsteres e mafiosos reconhecidos por todos como tais).

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