São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Sim, o "rei" foi realmente gigantesco

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

"Odeio música -especialmente quando é tocada ou cantada."
(Jimmy Durante)
A Internet é uma coisa bem útil, fique sabendo, Joãozinho.
Outro dia o velho "geek", dr. Dave, estava coçando o que resta de cabelo em sua cabeça brilhante, tentando imaginar o que fazer para se divertir no meio do inverno, quando a Internet lhe deu uma idéia "supercool".
Topei com um fato espantoso, que eu sei que você já sabe, mas que foi novidade para mim: que o dia 16 de agosto será o 20º aniversário da morte de Elvis Aron Presley!
Não, nunca assisti a um show do Elvis.
Nunca vi o "rei" em pessoa em Las Vegas, quando ele reunia multidões em seus shows, suava como um lutador de sumô, usava mais enfeites de ouro do que a filha de um chefão da máfia, se vestia como um prostituto e dava a impressão de estar prestes a explodir -porque comia mais comida frita num único dia do que a população inteira de Nova Orleans costuma consumir em um ano inteiro.
Contando a gordura
Elvis era dono de um talento gigantesco. Também era um porco gigantesco.
Quero dizer que o cara bateu as botas porque sua dieta consistia em tranquilizantes e estimulantes tomados aos punhados, tigelas enormes de achocolatados, bolachas mergulhadas na manteiga, sanduíches de banana e bacon fritos e frapês feitos com colheradas de banha de galinha.
As artérias do "rei" pareciam a via Anchieta às três horas da tarde de uma quinta-feira, num feriadão.
Sua contagem de colesterol provavelmente equivalia à conta bancária suíça de algum político da Bananalândia.
Como sabemos, Joãozinho, Elvis partiu para os grandes arcos dourados no céu depois de tomar uma overdose de 12 saquinhos de batatas fritas e dip de pastrami e gordura temperada com glutamato monossódico.
E, como uma multidão especial de adoradores do rei sabe muito bem, ele bateu as botas há 20 anos.
Então, quando o dr. Dave saiu surfando pela Internet, ontem, topou com a seguinte notícia intrigante: "O Instituto do Sul Vivo, com sede em Memphis, Tennessee, tem o prazer de anunciar o primeiro cruzeiro-conferência Elvis Presley: 'Caribe Azul - Em Busca de Elvis'. A viagem terá lugar entre 17 e 24 de agosto de 1997".
O "rei" cantante
Disse o diretor da conferência, o professor Vernon Chadwick: "Que melhor maneira haveria de se explorar o Caribe do que a bordo de um navio-cruzeiro com Elvis, que cantou e dançou em Honolulu, Acapulco, Las Vegas, Miami, Londres e o Oriente Médio em seus muitos papéis de viajante no cinema? Essa comemoração será o palco luxuoso de um instigante programa de entretenimento, interpretando a carreira do 'rei' e seu profundo significado cultural".
Será que o dr. Dave ouviu Chadwick mencionar as palavrinhas "bolsa de estudos"?
Ao que parece, Elvis virou o tema de redação de todos, o lugar onde a cultura de massas marca encontro com o conhecimento superior para darem uma rapidinha num motel flutuante de beira de estrada, engolirem uma dúzia de X-búrgueres e uma caixa de laxantes e seguirem adiante.
Esse cruzeiro maluco é promissor, se você é o tipo de pessoa que se liga numa mistura maluca de sol caribenho e surrealismo à moda antiga.
O inspirado professor/diretor do cruzeiro afirma que vai utilizar a viagem para ensinar "uma miniversão de seu curso universitário, que compara os romances polinésios de Herman Melville com os filmes havaianos de Elvis Presley". (Pode acreditar, Joãozinho. Nem mesmo o dr. Dave seria capaz de inventar uma história dessas.)
"Elvisólogos"
Outros participantes do cruzeiro vão incluir El Vez -o mundialmente célebre dublê mexicano de Elvis-, que pretende dar uma palestra sobre "Elvis no Yucatán" e liderar uma caminhada pelas ruínas maias. (Para profunda infelicidade do dr. Dave, parece que desta vez El Vez não pretende apresentar sua clássica versão de "You Ain't Nothing but a Chihuahua".)
Outros "elvisólogos" famosos das estranjas que parecem ter ficado de fora dessa festa são Ayako Maeda, o autodenominado especialista em "relações Elvis-japonesas-americanas", e Jukka Ammondt, o professor finlandês que canta canções de Elvis em latim.
Evidentemente, Elvis é o Santo Graal da cultura pop. Suas canções primitivas soam, aos ouvidos de nosso contemporâneos, como os pergaminhos do Mar Morto dos dias atuais. Não há dúvida de que o cara foi e continua sendo muuuuuuito popular.
Mas espera aí, caras. Nos seus últimos anos de vida, o coitado usava sutiã, tinha coxas feitas de queijo cremoso, tinha as dimensões do Graf Zeppelin, só se deslocava da cama para a geladeira e vice-versa, tinha sanduíches de manteiga de amendoim colados permanentemente em suas mãos e se recusava a comer com as luzes acesas.
Adoradores babantes
Então o que é que esse cara tinha, que tanto prende nossa imaginação? Como pode a memória de um velho gordo que cometeu suicídio com sanduíches submarinos ainda atrair seus seguidores babantes a um cruzeiro marítimo caro?
O dr. Dave tem uma teoria: que a vida de Elvis faz um paralelo com a vida dos bons e velhos EUA.
O jovem Elvis -belo, confiante, irreverente- lembra o otimismo de seu país nos anos 50.
O velho Elvis -obeso e viciado em drogas- deve lembrar muitos norte-americanos de seu eu mais recente, sua auto-indulgência, suas depressões e seus vícios.
Seja qual for a razão da atração, o dr. Dave já faz idéia de onde vai passar a terceira semana de agosto este ano.

Tradução de Clara Allain

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