São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Brasileira tenta salvar fêmea norte-americana

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Deu no "Jornal Nacional": testes realizados na Inglaterra demonstraram que o porco é mais inteligente do que o cachorro. Confesso que a notícia me abalou profundamente.
À exceção do bacon na sopa de ervilha, não tenho grande intimidade com porcos. Por outro lado, cachorreira de longa data, sou a feliz proprietária de um adorável dachshund, Pacheco Pafúncio, que vem a ser uma espécie de Einstein de quatro patas, um Thomas Alva Edison de rabo abanando, um Enrico Fermi de longas orelhas negras. E não consigo me imaginar passeando pelas ruas do bairro do Itaim com um suíno na coleira nem rolando sobre meus tapetes persas ou brincando de bolinha com um toicinho vivo. Já pensou?
Ocorre que, nos Estados Unidos, ter um porco como animal de estimação pega bem à beça. Quem já viveu ou vive em fazenda sabe que o porco pode ser um ótimo amigo do homem. É fiel, obediente e afetuoso -com as negas dele, claro, porque, no meu apartamento, nem que o síndico baixasse decreto autorizando.
Pois não é que, em minha recente viagem aos Estados Unidos, passei uns dias hospedada na casa de um amigo cujos vizinhos, um casal gay, têm uma porca, a Petúnia, como "pet"?
Petúnia gosta de dormir sobre o carpete e, como o único lugar da casa com carpete é o banheiro, as bichas sempre chegam atrasadas ao trabalho, já que a porca deita na porta e atravanca a entrada.
Meses atrás, o mesmo amigo que me hospedou recebeu a visita de outra brasileira. Ela estava sozinha na casa, lendo na varanda, quando começou a ouvir gritos vindos do vizinho: "Você não passa de uma porca nojenta!". Como, nos EUA, abusos de qualquer natureza, até mesmo verbais, são considerados caso de polícia, a brazuca ficou sem saber o que fazer: "Disco 911?". A voz vinda do outro lado da cerca continuava a despejar insultos: "Porca gorda! Você nada mais é do que um monte de banha!".
Escandalizada, a brasileira só conseguia pensar na vítima. "Minha nossa! Ele está magoando a mulher de tal forma que a coitada nem responde!"
A coisa foi indo até que nossa intrépida tapuia resolveu chamar a polícia. A caminho do telefone, ela parou para espiar o outro lado da cerca. E viu uma bicha gritando furibunda, enquanto Petúnia repousava sobre o canteiro de flores.

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