São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Sem-teto foi morto pela PM

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sem-teto Jurandir da Silva foi morto com um tiro disparado por um revólver da PM, no conflito entre a polícia e invasores da Fazenda da Juta, em São Mateus (zona leste de São Paulo), no último dia 20.
Esse é o resultado do laudo de balística do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo, que acrescentou a informação de que uma outra arma da PM foi disparada durante o conflito.
O exame de balística confirma se balas encontradas no local de um crime, ou no corpo de uma vítima, foram disparadas de uma determinada arma.
Segundo o diretor técnico do IC, Osvaldo Negrini Neto, dos cem revólveres analisados (99 da PM e 1 que teria sido encontrado pela polícia em um dos apartamentos ocupados), os testes deram positivo para duas armas.
Ou seja, em um dos casos foi confirmado que a bala retirada do corpo de Silva foi disparada por um dos revólveres da PM. No outro caso, houve confirmação a partir de uma bala recolhida do chão.
Jurandir da Silva foi atingido do lado direito do tórax.
O resultado do exame de balística foi entregue ontem ao delegado-titular da 8ª Seccional de São Paulo, Antonio Mestre Júnior, que preside o inquérito sobre o caso.
O promotor designado para acompanhar o caso, Francisco José Tadei Cembranelli, afirmou que recebeu anteontem da PM a relação das armas usadas no confronto e das pessoas a quem elas pertenciam.
"Ainda não tive acesso oficial ao laudo do IC. Não tenho como apontar quem foi o autor do disparo", disse Cembranelli.
Prova 'incontestável'
O promotor classificou o resultado do laudo como um dado "conclusivo e incontestável".
Segundo Cembranelli, o exame de balística é um elemento importante, que poderá aproximar o Ministério Público da identificação dos responsáveis pelas três mortes na Fazenda da Juta.
O promotor afirmou que os laudos serão analisados em conjunto com os depoimentos.
"Essas informações, que ainda serão confrontadas com as imagens gravadas do conflito, poderão nos oferecer as circunstâncias em que ocorreram as mortes", disse Cembranelli.
O promotor afirmou que as associações de laudos, imagens e depoimentos esclarecerão a dinâmica da ação da PM no confronto com os sem-teto.
"A partir daí poderemos chegar aos responsáveis", disse o promotor Cembranelli.
Hoje o promotor e o delegado vão ouvir policiais da Cavalaria da PM que participaram da tentativa de desocupação da Fazenda da Juta. Os PMs da Cavalaria deram apoio à tropa a pé.
Um dos policiais da Cavalaria foi reconhecido pessoalmente e por meio de fotos por dois sem-teto como sendo o autor do disparo que matou o manifestante Crispim José da Silva -morto com um tiro na nuca.

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