São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Um manifesto do corpo

ORLAN

"Carnal Art" é o auto-retrato em seu sentido clássico, mas realizado por meio das possibilidades tecnólogicas. Oscila entre a desfiguração e refiguração. O corpo se transformou num ready-made modificado, não mais visto como o ideal uma vez representado.
"Carnal Art" não concebe a dor como redenção ou como fonte de purificação. Não está interessado na cirurgia plástica como resultado, mas no processo da cirurgia, no espetáculo e no discurso de um corpo modificado que se tornou objeto de debate público.
Ateísmo
"Carnal Art" não herda a tradição cristã; resiste a ela. Ressalta a negação cristã do corpo como fonte de prazer e expõe suas fraquezas diante da descoberta científica. "Carnal Art" repudia a tradição de sofrimento e martírio, substituindo mais que removendo, acentuando em lugar de diminuir. "Carnal Art" não é automutilação.
"Carnal Art" entende que aceitação da agonia do nascimento é anacrônica e ridícula. Como Artaud, ela rejeita a subserviência ao Deus Todo Poderoso que terá anestésicos locais e múltiplos. (Viva a morfina!) (Viva a morfina!) (abaixo a dor!)
Percepção
Eu posso observar meu próprio corpo sendo aberto sem sofrimento algum! Posso me ver até onde estão minhas vísceras, um novo estágio de contemplação. Posso ver o coração do meu amante e seu desenho esplêndido não tem nada de parecido com o símbolo geralmente usado.
Meu amor, amo seu baço, seu fígado, adoro seu pâncreas e a linha do seu fêmur me excita.
Liberdade
"Carnal Art" defende a independência individual do artista. Neste sentido resiste a ditados. É por isso que está engajado no social, na mídia, (onde rompe com as idéias recebidas e causa escândalo) e vai até os níveis judiciários, se preciso.
"Carnal Art" não é contra a cirurgia estética, mas contra os padrões que a cercam, particularmente em relação ao corpo feminino, mas também ao corpo masculino. "Carnal Art" deve ser feminista; é necessário. "Carnal Art" é contra as convenções que exercem inibições no corpo humano e no trabalho artístico. "Carnal Art" admira a paródia e o barroco, o grotesco e o extremo. "Carnal Art" é antiformalista e anticonformista.

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