São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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General adúltero abre crise entre militares

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O secretário da Defesa dos EUA, William Cohen, disse ontem que continua a apoiar a indicação do general da Força Aérea (equivalente a brigadeiro no Brasil) Joseph Ralston para o posto de chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, apesar de ele ter admitido ter cometido adultério há 14 anos.
O adultério é considerado crime pela legislação militar. No mês passado, a primeira mulher a pilotar um B-52, o maior avião bombardeiro da frota militar norte-americana, a tenente Kelly Flinn, foi desligada da Força Aérea dos EUA por prática de adultério.
Uma eventual promoção de Ralston, atual vice-chefe do Estado-Maior, poderá ser usada como argumento de que as Forças Armadas usam critérios diferentes para aplicar a lei, em detrimento de mulheres e patentes inferiores.
Cohen argumenta que o caso de Ralston é diferente do de Flinn: ele teve uma ligação com uma moça que não fazia parte das Forças Armadas, numa época em que estava separado de sua mulher, com quem discutia as condições do divórcio; não desobedeceu ordens de superiores e não prejudicou a hierarquia.
Flinn se envolveu com um funcionário civil da Força Aérea, casado com uma recruta, e manteve a relação depois de receber ordens para interrompê-la.
Mas pelo menos um deputado do Partido Democrata (do governo), Charles Schumer, já disse ontem que "mulheres em todos os EUA devem estar pensando a respeito do significado da declaração de Cohen e do caso de Kelly Flinn".
O cargo de chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o mais alto da hierarquia militar nos EUA, ficará vago a partir de setembro, quando seu atual ocupante, o general do Exército John Shalikashvili, passar para a reserva.
Ralston, 53, tem o apoio de Shalikashvili e vinha sendo tratado como o seu virtual sucessor até que, anteontem, o jornal "The New York Times" revelou sua ligação amorosa com uma funcionária da Agência Central de Inteligência (CIA) em 1983 e 1984. Ralston, veterano condecorado da Guerra do Vietnã, admitiu o episódio e afirmou que nunca o havia relatado a seus superiores hierárquicos.
A Casa Branca, sede do governo dos EUA, não se manifestou sobre o caso. Uma porta-voz do presidente Bill Clinton, Anne Luzzatto, disse ontem apenas que "Ralston é um dos principais candidatos ao cargo, e sua situação permanece a mesma". O presidente é quem nomeia o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em geral seguindo a indicação que lhe é feita pelo secretário da Defesa.
Diversos casos escandalosos envolvendo sexo têm conturbado o ambiente nas Forças Armadas dos EUA nos últimos seis anos.

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