São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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Cebrap reelege o filósofo Giannotti

Escolha foi unânime entre pesquisadores

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O filósofo José Arthur Giannotti, 67, foi reeleito ontem presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), função que deve exercer até junho de 1999.
O fato de que sua reeleição tenha se dado na mesma semana em que Fernando Henrique Cardoso, seu amigo e também ex-presidente do Cebrap, conquistou definitivamente o direito de reeleger-se presidente da República é uma coincidência que desde já passa a ser contabilizada na conta do farto anedotário da política nacional. Mas é só.
A reeleição de Giannotti não tem conotação governista ou partidária. Pelo contrário. Foi reeleito por unanimidade entre os pesquisadores da casa, na maioria petistas, porque lá dentro credita-se a ele a sobrevivência do Cebrap enquanto centro independente e crítico.
O ano de 95 foi provavelmente o mais duro vivido pelo Cebrap desde o terror do regime militar. Pessoas diziam que as sequelas deixadas pela disputa entre petistas e tucanos e a eleição de FHC haviam matado o Cebrap -só faltava enterrar.
O economista Francisco de Oliveira, ligado ao PT, deixou a presidência da entidade, em maio de 95, atirando: "A era da inocência terminou", disse. Depois disso, desligou-se do centro e hoje só aparece lá em ocasiões bissextas.
Além disso, o governo tragou os quadros do Cebrap. Só na área econômica, foram três: Gesner de Oliveira, Mônica Baer e Lídia Goldenstein. O ministro Antônio Kandir é outro que já foi do Cebrap, mas antes de servir ao governo Collor.
A primeira-dama Ruth Cardoso e o sociólogo Vilmar Faria, hoje assessor especial do presidente, completaram o quadro dos desfalques. Coube a Giannotti, estrela solitária da geração de fundadores do Cebrap, a dupla tarefa de administrar a terra arrasada e recompor o ambiente político. Os próximos dois anos irão provar se ele venceu o desafio.
Catarse política
A primeira parte foi mais fácil. O Cebrap contratou no último ano a urbanista Regina Meyer, da FAU-USP, a antropóloga Paula Monteiro, também da USP, e os sociólogos Nadya Castro, da Universidade Federal da Bahia, e Sérgio Costa, que passou cinco anos na Alemanha e hoje leciona na Federal de Santa Catarina.
Agora, ao mesmo tempo em que se reorganizam os núcleos de trabalho da entidade, a tarefa maior de Giannotti é conseguir fazer com que o Cebrap volte a debater a conjuntura do país evitando dois riscos complementares: ser considerado uma linha-auxiliar do governo FHC ou reeditar o clima de guerra suicida instalado em 94.
Ontem, em seu primeiro dia de segundo mandato, Giannotti abriu simbolicamente um seminário no Cebrap intitulado: "A Conjuntura Política e os Processos de Reequilíbrio entre Estado, Sociedade e Economia". Disse que o centro, ao se debruçar sobre o Brasil atual, "reata com uma velha tradição perdida nos últimos anos".
Ontem discutiu-se "A Quebra do Paradigma Vargas"; na próxima sexta, o tema são os "Aspectos da Reestruturação Econômica"; no dia 20 de junho, "Novos Atores Políticos, Novas Demandas".
A ordem hoje no Cebrap é de estímulo às divergências, mas sem que se perca de vista a tolerância. Tudo parece ir bem, mas, como há eleição em 98, ninguém se arrisca a cantar, como Tom Jobim, "brigas, nunca mais...".

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