São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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Itália prende mafioso mais procurado

ANDREW GUMBEL
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA

O homem mais procurado da Máfia siciliana, o jovem chefão de Palermo Pietro Aglieri, foi preso ontem de manhã numa operação policial exemplar que infundiu novo ânimo à luta italiana contra o crime organizado.
Aglieri, 38, conhecido como "Signurinu" ("pequeno lorde") por sua educação relativamente sofisticada e modos refinados, foi pego de surpresa, escondido num depósito abandonado no distrito industrial decadente de Bagheria, na zona leste de Palermo.
Depois de passar a noite inteira vigiando o local, 12 policiais vestindo uniformes completos de combate atiraram bombas de gás paralisante, invadiram o local e algemaram Aglieri, juntamente com dois de seus colaboradores mais próximos, Natale Gambino e Giuseppe La Mattina.
Acredita-se que Aglieri, procurado por uma série de assassinatos de pessoas de destaque, incluindo os dos magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, que combatiam a Máfia, estava reconstruindo a ala militar da Cosa Nostra, debilitada por uma série de prisões de mafiosos importantes feitas nos últimos quatro anos.
Ex-aluno de uma escola de padres do arcebispado de Palermo, onde recebeu uma educação clássica, Aglieri é visto como uma das cabeças mais inteligentes da Máfia e homem com singular talento para encobrir seu próprio rastro.
Embora suas atividades datem dos anos 80, seu nome só chamou a atenção dos promotores em 1989. As autoridades levaram quase um ano para localizá-lo depois da prisão de seu "braço direito", Carlo Greco.
Ainda na quinta à noite, quando a polícia já havia tirado fotos dele no interior do depósito, as autoridades não tinham certeza quanto à identidade e tiveram de chamar o mafioso preso Giovanni Brusca, ex-colega de Aglieri e seu superior na Máfia, para confirmá-la.
Quando a polícia invadiu o depósito, encontrou Aglieri vestindo jeans e camiseta, com os cabelos e a barba desarrumados.
A promotoria de Palermo vinha ficando cada vez mais desanimada em relação a seu trabalho, devido às novas leis que impõem restrições ao sistema judiciário italiano e à tentativa de reduzir o programa de proteção de testemunhas.
Ontem, o promotor-chefe de Palermo, Giancarlo Caselli, atacou os políticos. "Estamos orgulhosos porque algumas pessoas mal-informadas afirmaram que o advento dos informantes da Máfia havia diminuído nossa capacidade investigativa", disse. "Terão de rever suas palavras."
Aglieri deverá comparecer ao tribunal pela primeira vez ainda este mês, num dos muitos julgamentos pendentes em que está envolvido.
Sua prisão deixa o mafioso veterano Bernardo Provenzano, que se acredita ser seu padrinho, na condição de único mafioso de alto escalão ainda em liberdade, depois de mais de 30 anos de atividade criminosa.

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