São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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"Guerra" na Bolsa pode iludir investidor

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem tem, deixa, quem não tem, não põe -pelo menos até o próximo dia 16. Esse é o conselho para quem não é profissional de mercado e quer ganhar dinheiro com ações na Bolsa de Valores.
Os analistas de investimentos alertam para o aumento da volatilidade (oscilação) do mercado acionário nos últimos dias e até a segunda-feira da semana que vem, quando os "tubarões" da Bolsa se enfrentam no pesado vencimento das opções de compra e venda de papéis.
"O jogo é pesado. É melhor esperar uma semana para depois investir devagar em ações, por meio de fundos de investimentos. ", recomenda Fábio Rodrigues Oliveira, diretor do Banco de Boston.
No vencimento das opções, grandes jogadores -bancos, fundos agressivos e especuladores- apostam fortunas na alta ou na baixa do mercado num determinado dia, quando acertam as contas. Essa briga aumenta o risco do investimento em Bolsa, pois os investidores tentam influenciar o mercado conforme suas apostas, comprando ou vendendo grande quantidade de papéis.
Como a Bolsa, puxada pela Telebrás, subiu mais de 60% neste ano, pode haver realizações de lucros nas próximas semanas, com quedas nas cotações.
Tendência
Julius Buchenrode, diretor de investimentos do Unibanco, acha que a tendência do mercado acionário até o fim do ano é de alta, mas também aconselha cautela nas próximas aplicações.
"Quem precisar do dinheiro no curto prazo deve ir devagar, pois o risco é maior que o de longo prazo", afirma o executivo.
Para ele, a Bolsa cresceu nos últimos cinco meses com a transferência de parte do dinheiro das aplicações de renda fixa para o mercado acionário. Esse fluxo, de cerca de R$ 4 bilhões, foi causado pela busca de maiores ganhos pelos administradores de fundos de investimento, já que a competição nesse mercado ficou mais acirrada e o cenário econômico e político continua, na média, positivo, avalia Buchenrode.
"Ainda há boas chances de ganhos na Bolsa neste ano, mais que nas aplicações de renda fixa", concorda Eduardo Santalucia, gerente do Banco de Investimentos Sudameris. "Orientamos nossos clientes para entrarem conscientes no mercado, não se deixando levar pelos traumas de curto prazo e nem querer ganhar os 60% que o vizinho já ganhou", afirma.
A primeira dica de Santalucia é conhecer bem as regras do fundo de investimento de seu banco para ver se os riscos são compatíveis com o perfil do aplicador (conservador, moderado ou agressivo). A segunda é ver se os fundos oferecidos tiveram performances consistentes nos últimos anos.
Para Oliveira, investidores mais conservadores devem limitar suas aplicações em Bolsa a 10%, 15% de seus recursos. Os agressivos, de 30% a 45%.
Os fundos de investimento mais agressivos, compostos de papéis de empresas de primeira linha -Telebrás e outras estatais de telecomunicações e energia- devem oscilar mais nos próximos meses que os fundos com ações de empresas privadas de segunda linha. Como sempre, nesse grupo a valorização foi inferior (cerca de 20% neste ano), mas eventuais quedas também serão menores.
"A segunda linha ainda não reagiu como a primeira. Nos próximos 12 meses, os fundos de ações tradicionais devem se beneficiar disso", aposta Santalucia.
(MG)

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