São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Apesar da riqueza natural, país é miserável

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DO ENVIADO ESPECIAL A LUANDA

Apesar da miséria ostensiva em todo o país, Angola é uma das nações mais ricas em recursos da África.
Já foi o quarto mais produtor de diamantes e de café do mundo, tem uma das maiores reservas de petróleo e gás natural do planeta, seus 8 milhões de hectares de terras aráveis estão entre as mais férteis do continente, e o país conta com significativos depósitos de ouro, ferro, fosfato, magnésio, chumbo, cobre, quartzo, mármore, granito e zinco, além de potencial para produzir pelo menos 600 mil toneladas anuais em pesca.
Mas, de todas essas possibilidades, só o petróleo é que tem dado certo nos últimos anos. Sua produção atual é de 700 mil barris por dia, equivalente a US$ 4,5 bilhões anuais. Em 2000, estima-se que a cifra chegará a US$ 1 milhão em barris por dia. As reservas recuperáveis de petróleo do país são calculadas em 4 bilhões de barris.
Os diamantes de Angola, além de abundantes, são considerados entre os de melhor qualidade existentes na Terra. A produção atual vale cerca de US$ 700 milhões por ano. Mas boa parte dela não reverte para o Estado por ser ilegal.
O país já chegou a produzir 2,4 milhões de quilates (492 kg) num ano (1971) e espera chegar a 2 milhões (410 kg) no início do século 21. A Odebrecht participa de dois dos mais ambiciosos projetos nessa área: o de Luzamba e o de Catoca.
Realidade dramática
As perspectivas são excelentes. Mas a realidade atual de Angola é dramática. A economia formal está em frangalhos; a grande maioria da população vive um padrão de vida extremamente deteriorado; a dívida externa é equivalente ou um pouco superior ao Produto Nacional Bruto; todos os serviços de infra-estrutura se encontram em péssimas condições; a inflação continua muito alta (embora o governo anuncie que ela se estabilizou em 13% mensais); apenas 3% da área cultivável está atualmente em produção; a indústria se resume a algumas confecções de roupas, duas cervejarias, e algumas fábricas de sabão, garrafas plásticas, tintas, cola, cimento e pneus.
As condições são de tal modo graves que muitos economistas no Banco Mundial dizem que um programa de austeridade clássico, de acordo com os padrões das entidades multilaterais, pode provocar ondas de violência social.
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Michel Camdessus, esteve em Luanda no final do ano passado e aprovou, em princípio, o programa de estabilização econômica do governo.
É possível que na próxima reunião anual do FMI, em setembro, haja aprovação formal do plano, e Angola possa começar a receber empréstimos.

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