São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Do escarrinho ao apertão

GABRIELA MICHELOTTI
DO ESCARRINHO AO APERTÃO

A paquera no Brasil tem sua história. Na época da colônia, as mulheres ficavam à janela, enquanto os rapazes passavam pela rua, piscavam e faziam gestos sutis. "As estratégias de sedução soariam pueris aos olhos de hoje. É o caso do namoro do 'escarrinho', costume luso-brasileiro dos séculos 17 e 18, no qual o enamorado punha-se embaixo da janela da moça e não dizia nada, limitando-se a fungar à maneira de gente resfriada, ao que se poderia seguir, fosse a declaração correspondida, uma cadeia de tosses, assoar de narizes e até cuspidelas", descreve Ronaldo Vainfas, no recém-lançado "História da Vida Privada no Brasil".
O costume da janela persistiu até pelo menos a década de 30. "Só as moças que tinham pais liberais podiam sair na calçada", conta a escritora Zélia Gattai, 80, que na época morava na alameda Santos, região dos Jardins (SP).
"O parque Paulista, que ficava onde está o Masp, era o local do namoro. As mocinhas passeavam lá aos domingos, enquanto os rapazinhos passavam e diziam alguma gracinha ou piada. Não havia beijinhos. Um dia, um rapaz me disse 'a senhorita acredita em amor à primeira vista?'. Eu fiquei brava, por causa da ousadia", conta Zélia.
A apresentadora de TV Hebe Camargo, 68, que viveu sua adolescência nos anos 40, diz que a paquera continuava à distância. "Era mais flerte. O que contava era a força do convencimento do olhar à distância. Nossas mãos tremiam, o coração disparava. Mas, muitas vezes, a gente se decepcionava", lembra-se.
A juventude da época se encontrava na Barão de Itapetininga, nos cinemas do centro e em casas de chá como a do Mappin.
A gíria "paquera" surgiu na década de 60, quando os Karman-Ghias e os milk-shakes começaram a invadir a rua Augusta. As meninas ficavam subindo e descendo a rua; os meninos andavam de carro, cantavam o pneu e buzinavam. "Eu não aproveitei muito essa época, porque estava empenhada com o meu trabalho, e morro de inveja da minha irmã quando ela conta sobre as paqueras na Augusta", diz a cantora Wanderléia, 49. Embora não frequentasse a rua Augusta, a "Ternurinha" era presença garantida nos bailinhos da época, nos quais os "brotinhos" dançavam ao som da Jovem Guarda e de Ray Coniff.

Texto Anterior: A paquera em São Paulo
Próximo Texto: A paquera em São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.