São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997 |
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Desenhos japoneses descarregam agressividade
CRISTIANA COUTO
Uma pesquisa feita por quatro universidades norte-americanas (da Califórnia, Carolina do Norte, Texas e Wisconsin) conclui que o espaço ocupado por programas violentos aumentou de 47% para 54% na programação das redes ABC, CBS e NBC, em um período de nove meses. Foram avaliadas 2.757 horas de programação em 23 canais, entre pagos e abertos, de outubro de 95 a junho de 96. A pesquisa ressalta que crianças abaixo dos 7 anos têm dificuldade em distinguir realidade de fantasia, e avisa os pais que "os desenhos violentos devem ser levados a sério." No Japão, no entanto, os desenhos animados servem para descarregar a agressividade infantil. Sônia Luyten, 48, doutora em ciência da comunicação pela USP e que viveu sete anos naquele país, crê que as séries animadas são uma espécie de "esperma tardio" na criança japonesa. "Os japoneses são um povo reprimido e que dispõe de pouco tempo e espaço para esportes. Os quadrinhos e desenhos servem como uma forma de exercício mental, uma válvula de escape." Considerados violentos para a cultura brasileira, os desenhos animados japoneses fazem sucesso. A Manchete exibe cinco deles. "Yu Yu Hakusho", que estreou em março e conta as aventuras de um detetive em um mundo espiritual, atinge picos de seis pontos de audiência, segundo o Ibope (480 mil telespectadores na Grande São Paulo). Para Luyten, não há critério na escolha da programação infantil. "Um desenho como 'Cavaleiros do Zodíaco'-reprisado na Manchete- é complicado para ser entendido pelas crianças brasileiras, pois é cheio de símbolos da cultura japonesa", avalia. O "preparo" para a agressividade, na opinião do cartunista Jal, 41, está no videogame, em que agilidade e violência estão diretamente relacionadas. "Nos jogos, quanto mais violenta for a criança, mais chances de sair vitoriosa ela terá". Para ele, os quadrinhos de Maurício de Souza, com as porradas da Mônica e poucos elementos cênicos, têm linguagem parecida com a dos mangás japoneses. Gustavo Barcellos, 37, psicólogo, diz que a TV e os videogames já formaram uma geração de adolescentes com comportamento radical do tipo "tudo ou nada". "Não há negociação ou barganha nas lutas dos videogames", analisa. (CC) Texto Anterior: Crimes avivam debate sobre violência Próximo Texto: Multishow aposta em horário teen Índice |
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