São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997 |
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ONU adia saída de tropas de Angola
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
A ONU tem cerca de 5.000 soldados de 30 países (inclusive 800 brasileiros) em Angola. Sua saída, já adiada duas vezes, estava marcada para agosto e agora pode ficar para setembro. Além disso, Annan anunciou que uma nova missão da ONU começará em Angola a partir de 1º de julho, com 345 policiais, 86 militares e 50 encarregados de resguardar direitos humanos. Desde a queda de Mobutu Sese Seko no ex-Zaire, observadores registram escaramuças militares na região nordeste de Angola. A versão oficial do governo é de que o Exército está operando para impedir a entrada de refugiados com armas do Congo (novo nome do Zaire) em Angola. Mas o volume da mobilização na área permite concluir que uma grande ofensiva pode estar sendo montada para aniquilar as forças da Unita, grupo guerrilheiro que combateu o governo por 19 anos e que hoje é o principal partido de oposição, com 67 de 220 cadeiras no Parlamento e quatro ministros no governo de união nacional. O principal aliado da Unita era o regime de Mobutu. O grupo mantinha em território zairense dezenas de milhares de soldados que não foram desmobilizados como previa o acordo de Lusaka (Zâmbia). A Unita contrabandeava para o exterior centenas de milhões de dólares em diamantes produzidos na região sob seu controle. O governo angolano deu apoio militar e financeiro à aliança liderada por Laurent Kabila, contando que ele viria a destruir os santuários da Unita no Congo e cortar suas rotas de contrabando. O governo e a Unita participaram de combates no Congo. Segundo a ONU, de 2.000 a 3.000 soldados do governo e cerca de 15 mil da Unita atuaram no antigo Zaire. Muitos analistas, entre eles o chefe da missão de paz da ONU em Angola, Alioune Beye, acham que a queda de Mobutu aumenta as perspectivas de consolidação do protocolo de Lusaka, porque a Unita, enfraquecida, será obrigada a entrar no jogo político para preservar poder e fontes de receita. Mas há também a interpretação de que a Unita poderá reagir no desespero se for atacada pelo governo. Informações de que o comando da Unita está dividido reforçam essa possibilidade. Apesar da mobilização, não se espera grande iniciativa militar do governo até o fim do mês, pois o presidente José Eduardo dos Santos está em férias na Itália. Texto Anterior: Oposição do Congo diz que domina capital Próximo Texto: Governo da Irlanda admite derrota Índice |
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