São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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CONGO

A explosão de conflitos políticos no Congo, a exemplo dos que sacudiram o ex-Zaire, deve ser entendida como mais uma das consequências do fim da Guerra Fria.
No Zaire, um regime pró-ocidental tirânico conduzido pelo ditador Mobutu Sese Seko foi capaz de manter relativamente inertes as rivalidades tribais. Inertes, mas latentes.
Mais ou menos o mesmo se deu no Congo, talvez em sentido inverso. Em 1968, oito anos depois de obter a plena independência da França, o Congo tornou-se, por meio de um golpe de Estado, uma nação de regime de partido único e de inspiração marxista, ainda que não muito duro, às vezes transitando mesmo para a social-democracia. Em janeiro de 1991, a democracia pluripartidária foi formalmente restabelecida.
Sendo, porém, um país que ocupa uma posição geopolítica estratégica e detentor de cerca de 2% das reservas de petróleo do continente africano, o Congo não foi esquecido pelo Ocidente, gozando assim da curiosa situação de receber ajuda econômica de ambos os lados dos contendores da Guerra Fria. Foi assim que o país conseguiu -certamente não reverter- melhorar muito seus principais indicadores sociais, tendo hoje, por exemplo, uma das mais baixas taxas de analfabetismo da África.
O tipo de luta pelo poder no Zaire, contudo, não parece ter respeitado as fronteiras físicas e ideológicas entre os dois países. Assim como Mobutu mantinha apenas latentes as antigas rivalidades tribais, o mesmo se dava com o regime de Brazzaville.
A vitória dos rebeldes zairenses liderados por Laurent Kabila parece ter reacendido o ânimo de facções congolesas que se sentiam excluídas do poder. Pegaram em suas armas e estão prestes a conquistar a capital, até há pouco considerada um local seguro pelos militares ocidentais.
Ao que tudo indica, a lógica africana da disputa pelo poder é algo mais perene do que a própria lógica da Guerra Fria, que vinha orientando o mundo nos últimos 70 anos.

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